Nosso Lar em Nosso Lar

Uma das mais inspiradoras páginas do Espiritismo Kardecista, em minha opinião, está no capítulo do “Nosso Lar” que trata dos bônus-hora. Segundo o livro, psicografado por Chico Xavier, com os trabalhos de auxílio no mundo superior, os membros de uma família de espíritos acumulam bônus de serviços. Cada hora de trabalho corresponde a um bônus-hora, que é uma espécie de “moeda corrente” no céu. Com os bônus, eles podem construir casas celestiais que abriguem pela eternidade – nos períodos de desencarne – pai, mãe, filhos e netos, por exemplo, antes de novas encarnações.

Planejando a morada

– Tô achando que a casa vai ficar linda, Saulo. Quero uma campainha de sino na entrada, vai dar um charme…

– Sim, claro. Por enquanto estou só estudando a planta baixa, meu amor. Com os bônus-hora que já juntamos, acredito que dê pra começar o alicerce da nossa vivenda espiritual.

– Bem ao nosso estilo, né? Tudo muito arejado, térreo, esse avarandado circundando a construção todinha…

– Do jeito que uma casa eterna merece! Se uma boa casa tem que ser pra sempre, imagine aqui no céu…

– Isso, meu lindo, também acho. E tem quartos pra todo mundo?

– Lógico. Até para os nossos bisnetos, que por enquanto nem encarnaram.

Afazeres na cozinha

– Nossa, bom demais esse cheirinho, heim?

– Estou fazendo o prato preferido de cada um e guardando tudo no freezer, para quando eles chegarem. Depois dos beijos do reencontro, imagina só irmos pra mesa e observar cada um deles se fartando com as comidas que mais gostam. Ai, eu não vejo a hora!

– E quem será que vem primeiro? Acha mal perguntar para os nossos mentores espirituais? Talvez eles saibam e contem pra gente.

– Não sei… acho que isso nem eles podem adivinhar. Só os círculos celestes muito, muito altos. Tá além da nossa compreensão e da nossa vontade, meu velho.

– O que me aflige é ficar vendo os meninos lá, batendo cabeça, perdendo o sono por pouca coisa. Quanta preocupação boba, quanto nervosismo, quanto inquietação lá na Terra…

– Meninos??? Meu anjo, o nosso caçulinha está com 52! Mas eu entendo a sua aflição.

– O pior é que, pelo menos por enquanto, a gente não pode descer, se materializar e dizer que o inferno é lá. Que aquilo não é vida, que a vida de verdade é aqui. E onde ela começa é justamente quando eles acham que é o fim de tudo.

– Saudade deles… vontade de aparecer de surpresa e dar jeito na situação.

– Nas situações você quer dizer, né? Nas situações…

– Prova esta torta de palmito aqui, veja se tá gostosa. É a preferida do Alfredinho.

– Huuuummmm, pra mim tá ótima, mas se bem conheço o nosso filho, ele vai achar que falta sal.

– Será?

Dim-Dom

– Ai, meu Deus, a campainha tá tocando. Alguém da família desencarnou.

– Nossa, é mesmo… acho que vou morrer de ansiedade, meu coração tá disparado!!!

– Relaxa, morta você já está.

– Brincadeira tem hora! Abre logo essa porta, Saulo! Deve ser um dos meninos chegando!

– Bom dia, Seu Saulo. Vai querer gás hoje?

Esta é uma obra de ficção

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