Novas Pinturas de JOÃO TIMANE – Artista plástico Moçambicano -

PINTURAS DE MOÇAMBIQUE – JOÃO TIMANE, ARTÍSTA PLÁSTICO MOÇAMBICANO

O mundo ao redor da dor?!

João Timane antes de jovem comprometido com as telas, é um observador atento do seu tempo, das emoções que fazem o mundo, do acordar e do deitar do mundo. As telas d’ O mundo ao redor edificam-nos a pensar o Mundo onde estamos e o outro mundo ao redor. Temos dois Mundos: um mundo e um Mundo. O mundo ao redor pode ser pensado como aquele que não nos pertence, mas que faz parte da nossa existência porque está ao nosso redor.

Num período em que a totalidade do Eu e do Individualismo acentuam-se, a cada piscar do relógio, resta-nos a tarefa de pensar o redor como o outro numa perspectiva de superioridade da ética sobre o Ser, diria-nos Emmanuel Levinas. Mas, Timane fora dos eixos éticos pensa o redor, o outro, o distante pela proximidade pela sua sensibilidade artística. As cores leves desses quadros, a tristeza que nos transmitem (típicas de quem vive ao “redor”) são aspectos que nos levam com conforto a esta viagem num longe tão perto, o redor.

Timane ocupa um lugar muito incomum nas artes moçambicanas pela sua capacidade de pintar o que a alma fala, de dobrar os ventos dos sentidos e pela sua firmeza na busca, quase impossível mas prazerosa, da pincelada certa para o momento certo. Liberdade, Fraternidade e Igualdade onde ficam no mundo ao redor? Usando a pós-filosofia de Richard Rorty podemos dizer que JT (Jovem das Tintas, aliás, João Timane) é um artista edificante, pois preserva a criatividade individual e desperta a sensibilidade do homem para as questões de seu tempo e destrói, com as tintas, em benefício de sua própria geração.

Façamos um “STOP” a este mundo ao redor que parece que só nos esvazia a ontologia. O mundo ao redor é também um espaço de reinvenção do ser, de (re) encontro e acima de tudo de contemplação de um Mundo sem redores e sem dores. O convite de JT, a de visitar o mundo ao redor, é no fundo um pretexto para pensarmos num mundo sem redores e sem negação do outro. É uma exposição de pinturas feita com muitas dores sobre o redor, mas, também, um momento de adentrar-se através da pinceladas bem feitas por JT ao mundo que nos quer sem nenhum redor.

Como bem disse Nelson Mandela, “Não tem nada de iluminado no acto de se encolher, pois os outros se sentirão inseguros ao seu redor”. E JT torna-nos seguros pintando sobre o redor, sobre o mundo ao redor.

Sérgio Raimundo