“O Amigo da Onça”​ de Péricles de Andrade Maranhão

“O Amigo da Onça”​ de Péricles de Andrade Maranhão

Por Jorge Hata*

Péricles de Andrade Maranhão, o famoso criador de “O Amigo da Onça”, suicidou-se no último dia do ano de 1.961. Escreveu cartas justificando o seu gesto, fechou todo o apartamento e asfixiou-se com gás de cozinha. Mesmo assim, não resistiu ao seu espírito de humor. Colocou na porta de entrada um aviso escrito a mão: – “Não risquem fósforos”. Originário de recife, Péricles, começou a desenhar na revista do Colégio Marista, onde estudava. Em 1.942, no peito e na coragem, um rolo de desenhos e uma carta de apresentação do seu amigo e jornalista, Aníbal Fernandes (do Diário de Pernambuco), Péricles chegou no Rio de Janeiro. Apresentou-se a Leão Gondim de Oliveira, diretor da revista “O Cruzeiro” e tornou-se um dos colaboradores mais moços daquela publicação. Começou trabalhando em quadrinhos, um típico personagem carioca, chamado “Oliveira, o Trapalhão”. Oliveira era um português bigodudo, que tinha como companheiro de trapalhadas, um negro com jeito e camisa listrada de malandro, Laurindo. Publicada inicialmente pelo “Diário da Noite”, as histórias de Oliveira chegaram também a “O Guri”, revista infanto-juvenil, editada pelo Cruzeiro.

Em 1.943, já com um estilo bem desenvolvido, Péricles, resolveu criar um personagem humorístico fixo para “O Cruzeiro”, cuja circulação semanal já era muito boa. A ideia partiu de uma anedota comum na época. Dois caçadores conversavam num acampamento na floresta: – “O que você faria se uma onça aparecesse na sua frente? – Ora, dava um tiro nela. – Mas se você não tivesse nenhuma arma de fogo? – Bem, então eu matava ela com meu facão. – E se você estivesse sem facão? – Apanhava um pedaço de pau. – E se não tivesse nenhum pedaço de pau? – Subiria na árvore mais próxima. – E se não tivesse nenhuma árvore? – Eu sairia correndo – E se você estivesse paralisado pelo medo? O outro já irritado, retrucava:- Mas afinal, você é meu amigo ou amigo da onça? Marcado pelo estilo dos humoristas argentinos mais famosos da época, principalmente Divito e Lino Palácio, Péricles criou o seu “Amigo da Onça”. Um cara baixinho, cínico, safado, que vivia aprontando poucas e boas com a cara mais deslavada deste mundo. “O Amigo da Onça” tornou-se a primeira página que todos liam em “O Cruzeiro”. Ajudou a aumentar, em muito, a popularidade e a circulação daquele semanário. Ganhou, inclusive algumas histórias em quadrinhos, também, embora Péricles nunca aproveitasse tudo que a fama do personagem permitia. Ele nunca utilizou a sua criação em produtos comerciais e outras manobras de merchandising, que realmente ajudam a enriquecer muitos quadrinistas. Apesar de humorista de mão cheia, na vida particular era um tipo meio solitário e ensimesmado, principalmente depois que desquitou-se da mulher e perdeu o convívio com o filho. Acabou suicidando-se em 31 de dezembro de 1.961. A sua criação, porém resistiu. Carlos Estevão, o segundo maior nome de humor gráfico da revista “O Cruzeiro” assumiu o personagem, até morrer, em julho de 1.972. Aí, outros desenhistas tentaram uma nova continuidade, mas os tempos e a própria revista “O Cruzeiro” já eram bem outros. Ficou mesmo como imortal “O Amigo da Onça” de Péricles.

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