O bem que a arte nos faz
Um dos pensamentos mais conhecidos de Nietzsche nos leva a refletir sobre como a arte nos permite sobreviver à realidade. Não vejo nenhum exagero nesse pensamento, como muitos afirmam. Nosso cotidiano contém uma realidade muito dura e, em vários aspectos, cada vez mais desafiadora, impalatável à nossa sensibilidade. Isso pode ser percebido neste momento em que o Brasil vive, dividido pelo ódio provocado por essa absurda polarização política. Há, no ar, uma sensação desagradável de que algo ruim poderá acontecer, não bastando os problemas já existentes. É lamentável ver pessoas mais próximas, gente com quem convivemos e reputamos como sensatas, “embarcarem” neste desvairado FLA-FLU ideológico.
Perdemos o “senso” de “bom-senso”, se esta expressão significa alguma coisa.
É legítimo fazer política ou campanha eleitoral usando como instrumento apenas a desqualificação do outro?
Não podemos sequer argumentar que retroagimos na prática política. Se retroagir seria voltar à mesma prática, existente no passado, estaríamos a incorrer numa inverdade, porque nunca ocorreu algo tão virulento em eleições passadas. Nunca foi tão corriqueira a prática de tentar destruir reputações mesmo à custa de inverdades, as chamadas “fake News”.
Esse clima só vem agravar aqueles problemas já enfrentados pelo cidadão comum no seu cotidiano, e só lhe piora o desassossego.
Mas, nesse deserto de civilidade e bom senso, ainda é possível encontrar algum oásis, capaz de nos prover de momentos de leveza e sensibilidade. Encontrei esse oásis na FLIM, evento lítero-musical onde estive neste último final de semana. Em meio a shows, lançamentos de livros, palestras, saraus, exposições, num elevado nível de qualidade, tive a feliz oportunidade de rever amigos cujo talento literário merece meu respeito e admiração. Muito feliz foi a iniciativa de eleger “PY- O lugar onde se pisa” como o tema da programação. Em guarani essa palavra designa “pé”. Os expressivos depoimentos de representantes da comunidade indígena, presentes no evento, foram um apelo muito oportuno à reconexão do ser humano com a terra e com a natureza.
Saí com a alma leve do Parque Vicentina Aranha.
Por Gilberto Silos
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