O brilho do Neon!

O brilho do Neon!

 

 

As lembranças de infância são bonitas, marcantes, mas ficou lá atrás, num outro tempo e espaço. O passado fica no passado e o melhor momento é agora. Tudo é tão passageiro, por isso, é muito mais interessante viver cada segundo como se fosse o último da sua vida, como já dizia Marco Aurélio nos idos da Roma Antiga. Ele também ficou no passado, mas suas palavras marcantes atravessaram o tempo e permanecem pairando no espaço, como um holograma. O que passou teve em seu momento único, o sentimento intenso, que deu lugar a tantos outros, tão intensos quanto. Viver intensamente aqui e agora e nada mais, porque só o sentimento deste instante é que nos torna vivos.
Não vivo do passado e não fico fazendo planos para o futuro, apenas o presente é meu, nada mais. Vivo o agora plenamente, apenas isso.  Lembrar, não significa ser saudosista – não sou, gosto do tempo que vivo agora, por mais distópico que possa parecer.
As minhas sensações de infância estão arraigadas em mim em forma de cheiros, cores, brilhos, sons, gostos, toques, que reunidas formaram o meu ser. Sinto o cheiro do café com leite quando tomei pela primeira vez, o cheiro ficou impregnado em mim para sempre e hoje quando tomo o café com leite, dispara o mesmo prazer em abundância – Gosto de cheirar as frutas antes de comer, as comidas e as bebidas que aprecio e todos os elementos da natureza. Lembro das cantigas que ouvia nas noites de luar ou visualizando com nitidez e a olho nu (morava na roça), a Via Láctea. Foram elas, as cantigas, que me deram esse gosto por ouvir os sons mais belos do Uni-verso, entre eles, a 9ª Sinfonia do meu amado Ludwig. 
Lembro dos luminosos de uma cidade que visitava, considerava aquela cidade uma metrópole…para uma criança tudo é grande, gigantesco e majestoso. E aqueles luminosos piscantes me fascinavam. E hoje, todas as vezes que saio à noite pelas cidades, eles ainda me encantam com seu brilho em neon – tudo advindo daquele instante fugaz, no colo do meu pai, vendo aquela beleza tão forte, que hoje continua forte. Mas aquela cidade que achava uma metrópole, era apenas uma cidade pequena do interior. E aos meus olhos de criança, que nunca tinha visto um luminoso e uma cidade, tudo parecia gigante, belo, luminoso e atraente, bem diferente do “Pueblo” onde nasci. Até hoje busco o brilho em neon, pelas cidades que perambulo.

 

 

Quando assisti o filme “Blade Runner – O Caçador de Androides”, uma das cenas que me marcou, foi aqueles gigantescos painéis luminosos futuristas, onde haviam algumas propagandas. O telão brilhava no filme, nas sequências em que os veículos voadores passavam entre os prédios de uma Los Angeles noir. Num dos painéis, aparece um anúncio japonês, onde a mulher engole uma pílula vermelha dizendo “Iri Hi Katamuku”* que significa “o pôr do sol afunda”. Ao ver a cena, lembrei dos luminosos da infância, onde via letreiros tão simples e achava um espetáculo, longe do espetáculo de grandes cidades que não conhecia e de um futuro que estava por vir. Apenas um simples luminoso que me encantava.
E de luminosos em luminosos, estamos aqui no século 21, vislumbrando uma era onde a tecnologia nos proporciona sonhos reais, sonhos que acreditamos ser a própria realidade. Ainda não aprendemos a viajar pelas multidimensões com o próprio corpo – E o multiverso parece familiar quando assistimos o Universo Cinematográfico da Marvel – E o metaverso nos aproxima face a face porque um esperto do Vale do Silício causa esse frisson em nós.
O passado bom ou ruim deixa de herança, as sensações. Essas que tornam os momentos intensos ou relegados a um segundo plano, dependendo do nível das sensações e da própria observação das mesmas, naquele instante fugaz. Foram elas que nos tornaram quem somos. Quer queira ou não, só os sentidos fazem sentido, pena que só temos cinco e esquecemos do restante, se é que tivemos algum dia. Que os deuses das sensações nos complete com todos os sentidos além, para então saber o que estamos fazendo neste mundo sem sentido. Ao infinito e além!

Elizabeth de Souza
090822

 

 

*”De acordo com algumas teorias, a pílula vermelha patrocinada por gueixas nas telas de neon de Blade Runner representa a pílula anticoncepcional. De acordo com os fãs de Matrix, constitui um convite para escapar da violência do mundo real”, segundo CARLOS ANDRIANI no blog https://www.wired.it/topic/cinema/

 

Nessa semana, vi um vídeo que me causou espanto…ainda tenho essa capacidade diante daquilo que não conheço, do que não me acostumei e do que se apresenta a mim de forma extravagante e invulgar. E gostaria que os que leem este texto, assistam e tirem as suas conclusões.

 

 

 

Sobre Elizabeth Souza 407 Artigos
Elizabeth de Souza é coordenadora e editora do Portal Entrementes....

2 Comentários

    • Bondade sua, minha querida prima, fico feliz que tenha gostado…você escreve muito bem e estou esperando seu novo texto, contando suas peripécias por Bella Roma atual. Grande abraço!

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