O mais bem-amado
É de se lamentar como as redes sociais estão sendo usadas, ao servir de canais para destilação de ódio e fake News. Não sem motivo, tornaram-se pauta de discussão no Congresso Nacional.
O clima de polarização política agravou mais ainda esta situação. Virou moda sair à cata de desafetos para descarregar-lhes o máximo de virulência possível.
Então, ocorreu-me uma pergunta: Em se tratando principalmente de pessoas públicas, quem goza, hoje, de prestígio e simpatia geral neste país? Que é o bem-amado de todos? Não consigo identificar ninguém em relação a personalidades nacionalmente conhecidas.
Vem-me à cabeça outra pergunta: O Brasil mudou tanto assim? Num passado não muito distante algumas pessoas gozavam de simpatia geral, ainda que não fossem unanimidades absolutas.
Quem já foi bem-amado neste país? Lembro=me de alguns nomes. E o mais bem-amado? Não é fácil escolher.
Talvez o Amado Jorge, o “Amado” baiano, autor de tantos sucessos literários, traduzidos em vários idiomas. Pessoa simpática, querida.
Ou artistas que conquistaram apreço e o coração do povo pelo seu carisma e inegável talento?
No mundo da política a tarefa não é simples. Geralmente o político desperta a paixão de alguns e ódio de outros.
Outros nomes vieram à minha memória. Personalidades que conquistaram a simpatia dos brasileiros. Ainda assim persistia a dúvida.
Hoje, nesta terça-feira ensolarada de maio, ao caminhar pelo bairro, deparei com um senhor trajando a camisa alvinegra do Botafogo, tradicional clube de futebol do Rio de Janeiro. Eureka!
Encontrei um nome: Garrincha! Na minha “opinião pessoal”, o Mané das pernas tortas, ídolo do futebol brasileiro, foi o mais bem-amado.
Na Copa de 1958, a primeira conquistada pelo Brasil, ele foi a grande sensação, ao lado do então menino Pelé. Em 1962, no Mundial do Chile, Pelé, a grande esperança do bicampeonato, contundiu-se logo na segunda partida. O povo brasileiro sentiu naquele momento uma profunda orfandade futebolística.
Garrincha, para nosso alívio, lá estava com seu mágico futebol. Ainda que sobrasse talento aos demais jogadores, ele foi a própria seleção. O bicampeonato era verde e amarelo.
Em sua homenagem não faltam documentários, biografias, músicas e estátuas. O estádio de Brasília leva o seu nome.
Garrincha, pelo seu talento e simplicidade quase ingênua, tornou-se a figura mais querida deste Brasil, o mais bem-amado. Pena que problemas pessoais e o vício do alcoolismo abreviassem sua vida. Triste fim de um ídolo do povo.
A seu respeito Drummond escreveu: “Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam e não há outro Garrincha disponível. Precisamos de um novo que nos alimente o sonho”.
Por Gilberto Silos
Faça um comentário