O Mito da Previsibilidade
Raro momento este que estamos vivendo. Pelo que se sabe a humanidade nunca se viu tomada por tanta perplexidade. O novo coronavírus subverteu completamente a ordem das coisas. Predomina uma generalizada sensação de insegurança. O amanhã parece cada vez mais imprevisível. O que resta é viver no agora, no momento presente, da melhor forma possível.
A mentalidade racional do Ocidente criou a “sociedade da previsibilidade”. Tudo pode ser previsto, estudado, medido e planejado. A vida cabe perfeitamente em fórmulas prontas e acabadas. O imponderável, o invisível, o transcendente, são delírios de místicos e sonhadores. Eles não têm espaço neste mundo de inabalável crença na ciência.
Predomina, há mais de dois séculos a ordem estabelecida por essa sociedade cartesiana. Agora surge algo invisível, intangível, desconhecido e põe tudo de cabeça para baixo.
Mas, essa nunca foi a realidade da vida. Sempre vivemos num engano monumental, sem o perceber. Nossa visão de mundo nunca enxergou a realidade da impermanência das coisas. Isso foi ensinado por Cristo nos evangelhos e a sociedade ocidental, predominantemente cristã, não entendeu.
600 anos antes da era cristã, filósofos como Lao Tsé e Heráclito já ensinavam que “nada no mundo é permanente a não ser a mudança”. As transformações fazem parte do fluxo natural da vida. Palavras como vida, mutação, movimento e insegurança significam a mesma coisa.
O grande paradoxo é o ser humano resistir às mudanças e, assim, entrar em conflito com um processo natural. A mutação não é uma força destruidora. A semente se perde na terra para gerar um outro vegetal. Isso se percebe na natureza. As formas representam um tipo de movimento. O corpo humano também, vive por ser um complexo de movimentos, de circulação, respiração e digestão.
Resistir às transformações, apegar-se ao que aparentemente é uma verdade indiscutível, é negar a essência da própria vida. Talvez seja essa uma das lições a aprender com a pandemia.
Por Gilberto Silos
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