O que fizeram do 7 de setembro?
Dia 8 de setembro despertei com um gosto amargo na boca. Na noite anterior tive pesadelos. O café da manhã não desceu bem. Parecia tudo engasgado. Não deu para engolir o que vi na televisão naquele feriado. Que coisa mais triste, surreal e patética! Aquele não foi o meu 7 de setembro.
Isolei-me no meu quarto, sem vontade alguma de entrar nas redes sociais, canais que me conectam com o mundo. Que mundo é este, afinal?
Comecei a rememorar cenas de minha infância e adolescência, meus tempos de estudante em Casa Branca. O 7 de setembro comemorado com patriotismo e dignidade.
A abertura do desfile começando na concentração na praça do tradicional Instituto de Educação. A solenidade principiava com o hasteamento do pavilhão nacional ao toque de clarim. Os hinos Nacional e da Independência cantados por todos. O discurso sobre o significado da data. O garboso desfile pelas ruas da cidade. Em tudo aquilo um sentimento de respeito e orgulho.
O tempo passou. Já adulto, nunca deixei de ir às ruas para ver o desfile. Levava comigo minhas filhas e ultimamente meus netos.
Desta vez, decidi ficar em casa, já antevendo o que viria a acontecer. Trocaram a comemoração cívica por campanha política. Mas, o pior estava por vir. Vociferaram contra as instituições. Ameaçaram o estado democrático de direito. Trataram adversários como inimigos, dividindo o país. Apropriaram-se da nossa bandeira, tornando-a símbolo de uma facção ideológica.
Nunca imaginei que tal viesse a acontecer justamente no ano do bicentenário da nossa independência política. Conspurcaram nossos símbolos mais sagrados. Um crime de lesa-pátria, que um dia a História há de condenar.
Por Gilberto Silos.
Crianças do desfile de 1997 em Jundiaí, SP na Rua do Rosário (Foto: José Macan/Prof. Maurício Ferreira)
Também não tenho coragem de ver. E ainda mais sabendo no que virou, também fico mal. Gilberto, o Brasil, vamos sair desta situação miserável?