O repouso dos guerreiros

Por falar em violência: soldado Nunes, cabo Ramirez e sargento Meira saíram de férias. Os três pertenciam a um certo batalhão, ainda mais radical do que o BOPE, um tal de BATE. Estava o trio abrigado debaixo do mesmo guarda-sol, numa praia carioca, quando Nunes fez a indagação:

– Vocês estão vendo aquele vagabundo chegando perto da velhinha?

– O quê é que tem? – quis saber Ramirez tirando os óculos escuros e dando um golaço na caipirinha.

– Pô, perdeu os reflexos em 48 horas de licença? Não está vendo que o cara vai surrupiar a velha?

– Bom, e daí?

– E daí que nós somos policiais…

Ramirez completou:

– …em férias.

Sargento Meira, que tirava sua merecida soneca, deu toda razão ao cabo.

– Eu não movo uma palha por ninguém até acabar meu descanso remunerado. E digo mais: vejam só o que eu vou fazer…

Meira se levantou, foi até lá onde estava o punguista e a senhora de idade. Para surpresa dos colegas, aplicou um demoradíssimo abraço no meliante. Depois beijou a mão da admirada longeva. Feito isso, retornou ao guarda-sol e falou:

– Sacaram? Se uso de violência no meu trabalho, nas férias vou fazer o quê, surrar gente? Nananinanão! No recesso, é só paz e amor, meus reis.

Ramirez se virou para o lado e cochilou, Nunes ficou pensativo. Depois de uns segundos, conferiu com o sargento:

– Só paz e amor?

– Só paz e amor – reiterou o outro.

Nunes então deu um assobio para o meliante. O rapagão, ainda pasmo com os carinhos do sargento, veio até o trio. O praça ordenou:

– Ô chefia, vai lá no teu cafofo e traz diamba aqui pra gente ficar na paz e no amor.

– Sim, senhor.

– Mas um pé lá e outro cá, morou? Senão, quando acabar minhas férias, te dou um tiro no escutador de funk.

– Demorô.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre Carlos Castelo 49 Artigos
Jornalista, poeta, humorista profissional diplomado. Um dos criadores do grupo musical Língua de Trapo.

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