O Ressentido

O Ressentido

Por Raul Tartarotti

O tempo esculpiu em minh’alma, linhas marcadas no rosto pela experiência de que depois de tanto passado, não há mais urgências como antes. Os ardentes amores, as palavras pesadas, tudo agora me faz sentido ser um caminhar sereno, de passos firmes e cautelosos, construído pelo ardor de muitas lutas.
Os detalhes dão o valor de cada momento, sentido nesse instante que estamos vivos, nos olhando e acompanhando ao espelho.  Que de tão longo passa ao largo uma lembrança castigada no seio de meu semblante. Será que o tempo, esse mestre caprichoso me deu tudo, ou estou devendo faz tempo?
O passado me trouxe até aqui, e por vezes me fiz encantado, outras, desencantado pelo rancor dos obstáculos, duros e espinhosos, ressentido pelos fracassos. Porém, estou sempre esperançoso em ultrapassar meus próprios limites, pois há muito desse tempo para fazer nada, e por vezes deixar de se fazer presente. Mas há também o tempo de ficar ao lado de um leito, acompanhando uma pobre alma em suas últimas e duras horas, pouco antes das nossas. Momentos tão expressivos como esses superam de longe as impróprias queixas e exaltações diárias de uma mente perturbada, ensandecida de fúria, sendo a expressão de suas próprias insatisfações, que nada mais são que limitações de seu ser imaturo. Tais circunstâncias perturbam socialmente um grupo de indivíduos, ao ponto de tornar o equilíbrio desestruturado, retirando a possibilidade de reinar a paz. É nesse ponto que está o ressentido, por vezes de origem vaidosa, em outras, da necessidade em culpar alguém por seu estado ruim, ou por males sofridos no passado. Culpar é mais fácil que assumir sua imensa limitação e dor. Não há opção honrosa, é necessária a descarga esbravejada á primeira vítima que se apresenta para ouvir e acolher, mas que tomba pelo cansaço do empurrão oposto, vindo de um indivíduo nada saudável mentalmente. O ressentido se aproveita do frágil ser solícito, envolto na humildade de suas limitações. Tenta montá-lo como a um cavalo, na doma hipócrita e desmedida sobre aquela criatura de simplicidade atenta, que ainda sorri perante o ataque. Esses e outros doentes, desconfortáveis com seu espelho, desfilam uma exposição farta de argumentos, na busca de um serviçal pra si, determinando um rio de possibilidades seguras de sobrevida na selva de lama que circula a sociedade com alguns alheios ao convívio do bom senso. Os dias se renovam e com eles nossa possibilidade de saúde social cresce, e buscando o leito do rio saudável encontramos parceiros(as) que enobrecem aquele momento instantâneo de alegria e paz. Esse encontrar é simples e alheio às escolhas do indesejado, por isso migre seu sorriso para esse meio de almas do bem, e arrefeça a você e os seus com um brilho no caminhar. Traga sentido para sua vivência, pois o tempo bate breve e frequente, e vem atrás de você escolhendo sua fraqueza, mas ainda mostra que tens mais um pouco dele.

Sobre Raul Tartarotti 95 Artigos
Natural de Gramado, Raul teve formação básica em Eng. Biomédica. É cronista em diversas publicações no Brasil e exterior, impressa e eletrônica. Estudou literatura Russa, filosofia clássica e contemporânea. Suas crônicas são de cunho filosófico e social, com objetivo de trazer reflexão ao leitor sobre temas importantes de nosso cotidiano.

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