O Segredo Sagrado
Conta uma lenda indiana que certa vez os deuses discutiram entre si a respeito do grande segredo da vida. O propósito era descobrir como ocultar aquele segredo dos seres humanos, de tal forma que nunca o encontrassem.
– Vamos enterrá-lo debaixo de uma montanha – sugeriu um deus-, lá eles não o encontrarão.
Outros entenderam que não seria um bom lugar. Os homens escavariam a montanha até descobri-lo.
– Que seja escondido nas profundezas do oceano, – sugeriu outro deus -, lá estará mais seguro.
Outros disseram que não seria um lugar ideal. Algum dia a humanidade conseguiria chegar ao mais profundo do oceano e encontraria o segredo.
– Guarde esse segredo dentro deles mesmos – disse outro deus -, ali eles jamais pensarão em procurá-lo.
Todos concordaram. Diz a lenda que esconderam o segredo da vida no mais profundo, no mais íntimo do ser humano.
Para preocupar tanto os deuses é possível imaginar como esse segredo é superlativamente sagrado. Que segredo é esse?
Se afinarmos duas cordas de violão no mesmo tom, uma vibrará quando a outra for tocada. A espiritualidade significa afinar o espírito em nós com sua Fonte. É o caminho que nos leva a desvendar esse segredo. Existe um ponto de ligação entre nós e o Absoluto, a origem de tudo.
Há uma corda que podemos afinar com o Divino em nosso íntimo. As mais profundas tradições esotéricas de todos os tempos nos falam de uma Centelha do Absoluto dentro de nós. Mas, influenciados por uma cultura materialista de um lado, e por crenças dogmáticas de outro, não nos aventuramos a tentar desvendar esse mistério.
A espiritualidade pode ser uma valiosa ponte, capaz de unir o humano ao sagrado dentro de cada um. Ela, porém, não é um conteúdo. Acima de tudo é um processo. Um meio de tornar consciente uma realidade até então inconsciente. Uma caminhada eterna e infinita. Não depende de seguir mestres ou devorar livros, embora isso possa ser uma boa ajuda nos primeiros passos. É um caminho de libertação da mente e do coração na descoberta da essência sagrada que subjaz em todos os seres. Essa essência e o Absoluto formam uma unidade. “Eu e o Pai somos Um”. Os homens e os deuses não estão separados. Esse é o segredo que tentaram ocultar.
No capítulo 3 do Gênesis lemos como nossos olhos foram abertos pela primeira vez. Abertos para a realidade concreta, para o mundo exterior. Descobrir esse segredo agora é “abrir os olhos” pela segunda vez, para dentro, para a nossa realidade cósmica.
Por Gilberto Silos
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