O ser autêntico

O poeta Mário Quintana afirmou certa vez “que vivemos num mundo onde todos querem ser alguém na vida, exceto a si próprios”. Não podemos deixar de lhe dar razão. Basta observarmos o comportamento das pessoas em sociedade.

Não é de hoje que o imperativo “ser alguém na vida” é a motivação a orientar e conduzir os esforços humanos. E pautar os objetivos e ideais de muita gente.

Para mim ainda não há clareza nesse conceito. O que é “vencer na vida”? Ser rico? Desfrutar da fama? Ser detentor de poder? Ostentar grande beleza física e tirar proveito disso? Esbanjar simpatia? E, por aí vai.

Ouço inúmeros pontos de vista diferentes, sem levar a nenhum consenso. Mas a sociedade cobra esse “status”. Isso é verdade.  E muitas pessoas, imbuídas dessa que eu me permito chamar de falsa necessidade, são capazes de qualquer sacrifício para satisfazê-la. Deixam de ser elas mesmas para interpretar determinados papéis, estabelecidos pelo grupo social.

Somos como somos porque outros querem que sejamos assim. Para alcançarmos destaque em alguma área de atuação temos de nos adaptar a certos padrões de comportamento, estranhos à nossa verdadeira natureza. Não dizem nada do que somos em essência.

Podemos até obter êxito nessa empreitada, mas isso nos será cobrado de alguma forma. Esse artificialismo tem preço e prazo de validade. A violência contra o nosso verdadeiro “eu” acabará por nos deixar doentes e infelizes. Os consultórios de psicanálise andam lotados.

É uma insanidade, como apontam vários terapeutas, negar à alma o direito de ser ela mesma. Essa falta de “integridade” pode levar a doenças físicas e estados psicológicos mórbidos.  Santo Agostinho dizia “que há alguém dentro de mim que é mais EU do que eu mesmo”.

Todos possuímos potencialidades, capacidades intrínsecas adormecidas. São  expressões do nosso ser mais verdadeiro, autêntico e genuíno, aguardando o momento de sua manifestação. Não devem ser sufocadas para atender unicamente as exigências do meio social. Para alguns teólogos mais avançados, “pecado consiste em falhar ao fazer da nossa vida aquilo que sabemos que poderíamos fazer dela”. Significa conservar a unidade, a singularidade do nosso ser, viver por inteiro o que somos.

Não nos permitamos ficar em falta conosco mesmos.

Por Gilberto Silos

Sobre Gilberto Silos 218 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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