O vício de escrever
Estaciono no meio fio, preciso escrever aquela frase que brotou tão fácil. Veio das nuvens ou da minha piração? Veio do calor do meio dia ou daquela conversa banal? Sei lá, mas chegou até mim e não até o Zeca Baleiro!
Se não escrever, perco tudo pelo caminho até chegar ao meu destino. Vou acabar esquecendo, a não ser que fique repetindo até chegar em casa. Repetir em voz alta para dar ênfase ao ritmo e associar com alguma coisa e assim mantê-la viva nessa memória de peixe (né Dal?).
Ai, mas cadê a caneta? Eita, esqueço que tenho um celular e poderia gravar…Mas a minha voz não é doce, não vira canção. É preciso ter voz doce para falar uma frase poética. A minha é ácida e perfura como um punhal.
Quem dera minha voz pudesse trazer o descanso dos olhos e ouvidos dos transeuntes. Que pudesse adormecer as feras do meu quintal. Que pudesse calar os pássaros da minha romanzeira, quando brigam e gritam ao invés de cantar. Que pudesse abrir as rosas vermelhas e espinhosas, fazendo-as sorrir mansas, sem espetar. Que ajudasse a espalhar o cheiro do jasmim, que abre uma vez por ano em meu jardim.
Sempre tive o desejo de um jardim colorido, com todas as flores, mas que também tivesse algumas árvores de frutas pelo meio. E ao passear pelo reino das flores, aproveitava para chupar uma laranja, uva, saborear uma romã, maçã ou um ariticum, que é tudo de bom. E não poderia faltar as ervas perfumadas e as que curam todas as dores humanas.
Ah, eu consegui escrever, mas o trânsito hoje está muito tenso, acho que vou ficar mais um pouco por aqui, observar o movimento…quem sabe vou além dessa frase bonita e consiga identificar no som das palavras, a cura para os meus vícios.
Elizabeth de Souza
13-10-2020
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