Minha infância estupidamente inesquecível: eu brincando com os amigos, de sol a sol, neste areal a perder de vista. Findo o dia e a janta, banho tomado, voltávamos às noites egípcias de estrelas incontáveis. Para mais brincadeiras. Para mais risos, corre-corres e esfolados nos joelhos.
Mas o progresso e o passar do tempo mudam tudo, viram o que querem de cabeça para baixo. Comenta-se sobre três grandes, faraônicas obras, que prometem transformar para sempre o panorama, soterrando sem dó meus castelos de areia. Minhas pequenas esculturas que se vão com ou vento ou a chuva, belas ou bizarras, mas minhas.
A modernidade chega com o nome de complexo de Gizé, em construções imensas denominadas “pirâmides”. O projeto prevê três ao todo, cada uma com um nome: Quéops, Quéfren e Miquerinos. Pouco se sabe ainda para que exatamente servirão, além do aniquilamento das nossas dunas encantadas. Mas dá para se ter ideia de suas proporções descomunais e labirintos internos, por onde transitará gente sabe-se lá com quais esquisitos afazeres. Já outros comentam que essa ostentação toda servirá como residência ou como túmulo de imperadores deste Egito ao mesmo tempo castigado e glorioso.
As obras começaram há mais ou menos uma semana. Alguns meninos da minha turma já organizam um bolão de apostas para tentar adivinhar em quanto tempo os engenheiros do imperador desistirão da empreitada, já que parece ser humanamente impossível arrastar blocos gigantescos até o cume de cada pirâmide. A menos que contem com a ajuda dos deuses.
Esta é uma obra de ficção
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