Ócio que te quero ócio
Neste sábado ensolarado despertei com o pensamento de escrever uma crônica.
Estou há algum tempo com olhos fixos na tela do computador e dedos impacientes no teclado. Até agora nada. Com tanta coisa acontecendo no país e no mundo, nenhum tema ocorre. Um desconfortável vazio de ideias me invade. Talvez seja o resultado dos últimos dias, ocupados, preenchidos com vários afazeres, alguns até estressantes. Um cansaço parece bloquear o pensamento criativo. Soa como um alerta.
É saudável manter a mente e ou os braços ocupados. Mas há um limite para tudo. Até as máquinas param para manutenção. Pausas, férias, são necessárias. Há quem descanse e carregue pedras ao mesmo tempo. É um caminho perigoso.
No cotidiano, momentos de puro ócio podem ser uma boa terapia. E, não se deve ter vergonha disso. Infelizmente a palavra “ócio” ganhou um significado pejorativo, algo assim como vagabundagem. Tornou-se até palavrão neste mundo capitalista em que vivemos., onde produtividade e competitividade são virtudes desejáveis. Preconceitos à parte, mas os “Workaholics” devem ser pessoas muito chatas.
Quando uso a palavra “ócio” eu o faço num sentido bem radical. Significa não fazer nada mesmo, “ficar de papo pro a ar”, “olhando para o tempo”. Pode ser um exercício interessante e surpreendente. Nesse aparente “vazio”, desse “nada”, as ideias criativas podem brotar naturalmente. Ao contrário do que se pensa, não é o ócio que bloqueia a criatividade, mas sim o cérebro saturado de informações e problemas a resolver. O “ócio criativo”, termo criado pelo sociólogo italiano Domenico de Masi, abre canais para o fluxo da criatividade. Nesses momentos de relax e leveza podemos encontrar soluções criativas, inusitadas para os nossos problemas. Mesmo na atividade profissional, essas pausas descontraídas podem ser a “salvação da lavoura”, quando parece estarmos num beco sem saída diante das exigências corporativas.
E, que ninguém se culpe por não se manter produtivo o tempo todo. Pense na possibilidade do ócio, de tempos em tempos, ser o principal fator da sua produtividade.
E, para encerrar, uma perguntinha marota: Vocês não acham a formiga da fábula de La Fontaine um pouco reacionária?
Gilberto Silos
Gilberto eu adoro fazer nada. Nem sempre podemos nos dar ao luxo de ficar sem fazer nada, mas essa é a melhor parte da vida.
Abraço!