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Para Teixeira Coelho, in memoriam

 

A vida nos embriaga, nos enlouquece, nos sacode, nos revira. De fato.

Foi assim que a vida me levou ao êxtase raro de pousar em nuvens e voar no colo do sol macio e excitante de um dia de junho, mesmo que no outro, de imediato, me atirasse violentamente contra rochas que me arrancaram pele e coração para que eu ardesse em carne viva no sal do mar enfurecido, ao saber sobre a morte do meu querido mestre e amigo Teixeira Coelho.

No dia 3 de junho, a convite do Instituto Iddeias, estivemos palestrando, ou melhor, conversando, sobre as Mulheres de 22 em 22, para uma plateia atenta, delicada, amorosa e palpitante durante a FLIG, Festa Literária de Guaratinguetá. Em 2021 o Sarau das Iddeiass já estivera presente na Festa Literária, online, como é de sua gênese, posto ter nascido virtual, como antídoto à solidão e aos horrores da pandemia e destes tempos. E assim sobrevive, inclusive lançando a emblemática antologia Foice na carne, como um sopro do homo poeticus e do homo demens , peculiar da poesia, contra a falta de ar e contra o horror violento que tenta nos abater desde 2016.

Só agora, depois de mais de dois anos, aos poucos, com muito cuidado, com muita escuta, poetas do Sarau das Iddeias e artistas que  amamos tanto há tanto tempo( nós, que envelhecemos tanto, nós,  que sobrevivemos!!), se olham nos olhos o suficiente para sentirem o pulsar de seus canais lacrimais, perceberem suas narinas inflando mais ou menos rápidas, mais ou menos lentas, conforme o que sentem, trocarem os arrepios dos poros de suas mãos cobertos dos pontículos de suor das linhas de suas vidas roçadas nos primeiros reencontros, nas festas, saraus, tardes de poesia, manifestos …

São perceptíveis o êxtase arfando nos nossos peitos, nossos gestos trêmulos, nossos lábios excitados de vida falando, falando, essa doação frenética, louca de amor, para o outro, para todo o outro.

Quanto à manhã seguinte, na FLIG, acordei leve de amor. O fim da noite fora mágica, brindada junto às amigas e amigos, o que me alicerçou para o imenso soco no peito que me espreitava.

Naquela noite, à porta do restaurante Esperança, era como se fôssemos o Grupo dos Cinco da Semana de Arte, embora fôssemos mais.  O espírito deles talvez pairasse sobre nós. Ao fundo, o trem envolto em uma tal névoa e luz dourada me fizeram beijar na memória toda a paixão que tive e tenho pelo Vale do Paraíba, pela poesia, pela amizade, e pela revolução.

Por Beth Brait Alvim

12 Comentários

  1. Agora esta em casa novamente, diante do Oceano Atlantico .. também meu lar. Quando faremos um sarau ao lado daquela Igreja?
    De nossa MASSAGUAÇU, Cocanha ..

    • Faremos, Jokinha, faremos.Agora estou Santana de Parnaíba, com filha e neta. Talvez só em julho em Massaguaçu.

  2. Beth! Querida Beth..seu texto-sentimento expressa o que de melhor trazemos em nós agora. O vazio dos dias nos enchem os olhos das cinza e dela renascemos e sentimos wue menos wue nossos sonhos não podemos ser

  3. Que lindo Beth Brait Alvim. É com o coração repleto de luzes que recebo com amor essa dedicatória. Um caloroso, carinhoso e fraterno abraço.

  4. beth, você fala de amizade e fala de amor e fala de todos nós juntos, caminhando e cantando a canção da vida, entre escombros e esperanças. grata por estar contigo e relembrar aquela cena linda do trem nos invadindo de um tempo antigo e vivi e nosso.

    • Sofrer poeticamente é arte. Quero viver com arte. É o que de melhor nos resta, não eu? Bom te ver, muito bom

  5. Querida Beth: só posso de mandar abraços e beijos. Sigamos no rítmo de alegria,dor, lutas e esperanças.

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