Tenho em mãos, nada. Nem inspiração nem verbo. Vácuo. Tenho, no entanto, a oficina, o oficio. A folha e a letra. Tenho o risco o traço. E nada basta.
Então chuto, e bato. E quebro. E rasgo.
Mordo a palavra. Arranco todos seus sentidos próprios. Todos os impróprios. É minha a oficina de quebrar palavras.
O meu verbo dança com Artaud no precipício. Com Nietzche assassino todos os monumentos de pedra paternal. Pedaços. Espaços.
Escassos todas as verdades. Não há verdade nem caminhos.
Há, sim, um descascar-se por completo. Bartleby diante do muro cego, letra não dita, não-escrita. Ainda. Longe do sentido em que pisam os pés do comum consenso. Distante da linha que abriga os ecos e restos de qualquer tradição.
Na oficina me transmuto em letra. Em pedaço de letra. Em farelo de letra. Em uma não-letra. Aquela que virá com o povo que ainda há de vir. Devir. Letra-devir.
Letra de ouvir. Letra de comer com gosto e fome. Letra de embriagar, de embebedar a carne toda. Letra-sexo, letra-cântico de sereia nua. Crua. Letra em língua de louco que profere, desfere, em reunião pagã, vocábulos de mágica herança. Profundas rezas por veredas ainda não penetradas, perpetuadas, petrificadas pelo olho tolo do interpretador geral. O olho reto e correto do resumidor, do consumidor de arestas, nuanças, pontas, frestas.
– Não ao emparelhador certeiro das paredes úmidas.
– Não ao verbo disciplinador do poema funcionário público.
Em minha oficina. Em minha casa de louco. Em minha folha, em meu texto torto, quebro com marreta e fúria a palavra-pedra-dura. A palavra-pele-tua. E te exponho. E me exponho ao espelho cego.
Não entendes? Pretendes?
Uma ideia clara? Uma ideia morta…
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