A vida nos oferece lições inesperadas. Outro dia aconteceu comigo um fato que me marcou profundamente.
Eu caminhava, apressado, em direção a um banco para resolver problemas financeiros. Ao passar em frente aquele supermercado na esquina da praça Afonso Pena, uma moradora de rua abordou-me pedindo dinheiro. Acelerei o passo e, sem dirigir-lhe o olhar, respondi que não tinha.
Para minha surpresa, um morador de rua postado ali nas proximidades alcançou-me. Dele ouvi mais ou menos as seguintes palavras: “O senhor respondeu sem sequer olhar nos olhos dela. Ela não é invisível. Ela existe e merece um pouco mais de compaixão”.
Continuei minha caminhada, mas antes de entrar no banco recostei-me numa mureta próxima para recompor-me. O episódio me deixara atordoado. Sentia-me internamente arrasado, com uma incômoda vergonha de mim mesmo.
Resolvido o problema no banco, retornei ao local e encontrei aquela mesma mulher. Dei-lhe a ajuda que me pedira e, em meio a explicações e pedidos de desculpas, conversei com ela. Inteirei-me de seu drama pessoal e familiar olhando diretamente naqueles olhos claros que irradiavam humanidade e sofrimento.
Foi um momento mágico de uma lição inesquecível. Quando dirigimos o olhar a um ser humano, não estamos apenas vendo o outro. Nele percebemos a nós mesmos, porque somos feitos da mesma Essência. As diferenças são físicas e nas formas de manifestação do ego. Se é verdade que “os olhos são a janela da alma”, neles vemos refletida a essência do outro; a nossa própria essência.
Por Gilberto Silos
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