Os Limites da Caixinha
Sexta-feira, final de tarde. Alternando meu olhar entre o teclado e a tela do computador tento escrever algumas linhas. Nada. Não me ocorre ideia alguma. A inspiração não me socorre.
Vou até à janela do cômodo. No momento em que a noite começa a baixar seu manto escuro ainda vejo uma nesga de sol pondo-se no horizonte. Um misto de melancolia e serenidade apodera-se de mim. Há um silêncio total na casa e na rua. Essa quietude me dá uma agradável sensação de leveza que se transforma numa espécie de apagão. É como se eu tivesse saído do corpo físico. Perco a noção de tempo. De repente sinto novamente os pés no chão. Pensamentos e sentimentos começam a fluir.
Fico pensando em qual é o sentido dessa pandemia que põe o mundo de cabeça para baixo. Talvez seja esse mesmo o sentido. Algo assim como subverter a ordem das coisas. Fazer a humanidade pensar fora da caixinha. Ir além de seus limites convencionais.
A caixinha simboliza a zona de conforto de quem prefere permanecer no fundo escuro da Caverna de Platão. De quem resiste a abandonar os paradigmas atuais, com seus dogmas e pretensas verdades absolutas. Mudar a visão de mundo exige esforço e coragem. Coragem moral para renunciar a uma vivência padronizada desde fora, imposta por uma sociedade que já não mais se sustenta. Coragem para enfrentar um complicado mas falso dilema. Falso justamente porque o abismo se aproxima e no frigir dos ovos só haverá uma saída. Mas, a humanidade não se dá conta disso porque não percebe que esse beco sem saída já existe há algum tempo.
Como escreveu Alan Watts, “à medida que os anos passam tenho a impressão de que há cada vez menos rochas em que se possa agarrar, menos coisas que se possam considerar absolutamente certas, verdadeiras e definitivas.”
Watts escreveu essas palavras em 1951. 70 anos se passaram sem que o mundo percebesse isso. Agora vem uma pandemia e nos deixa sem perspectivas. Será que ela não nos traz a mensagem da reinvenção? Pensemos nisto.
Por Gilberto Silos
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