Paulo Impossível
Há pouco tempo estive em São Paulo e aproveitei para fazer uma via sacra pelas livrarias do Centro. Numa delas, para minha surpresa, encontrei o Paulo Impossível, antigo colega de trabalho no Grupo Pão de Açúcar. Não nos víamos há muitos anos. Dali fomos a uma cafeteria para colocar a conversa em dia.
Por que Paulo “Impossível? O “Impossível” foi o apelido que seus colegas lhe acrescentaram ao nome. É que o sujeito é mesmo impossível. Explico.
O Paulo é um sujeito muito inteligente, perspicaz, simpático. Homem de muita leitura, comunicativo, ótimo argumentador. É difícil dobrá-lo num debate. Quase impossível. Sendo voluntarioso e polêmico, encrencas nunca lhe faltaram. Tem opinião a respeito de tudo, até sobre o que não entende.
Acima de tudo, o Paulo é uma pessoa sedutora, ótimo papo. Suas tiradas humorísticas são muito boas, no puro improviso.
Começamos a conversar sobre política, ética, pragmatismo. E ele, como é seu costume, já foi logo opinando: “No Brasil, eleição tornou-se o direito constitucional de escolher os cabritos que vão tomar conta da horta.” “Pragmatismo é bom, mas nem sempre compatível com a ética. Porém, às vezes é a única saída num dilema onde se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”.
Num determinado instante a conversa pendeu para nossos problemas psicológicos, nossas loucuras de cada dia. E lá vem meu amigo afirmando que uma boa terapia pode ser imitar os animais domésticos, porém, se for para imitar um cão, é bom ser comedido no movimento da cauda.
Como as horas passavam rapidamente eu lhe disse, já em tom de despedida, que estava com pressa para retornar a São José dos Campos. Ele não deixou por menos: “Sempre acreditei que a pressa é inimiga da perfeição, mas de for para correr de um cachorro feroz, não acredite no que eu acredito”.
Depois dessa, nos despedimos e cada um foi para seu destino.
Como já escrevi, o Paulo Impossível vive se metendo em confusões. Uma delas ocorreu quando em férias com a esposa no Rio de Janeiro.
Circulando pela Barra da Tijuca, foram a uma feira esotérica, dessas onde se lê tarô, joga-se búzios, vende-se incenso indiano e coisas do gênero. Decidiram entrar na tenda de uma vidente para saber como andava a sorte do casal.
A sensitiva começou falando sobre cada cônjuge, profissão, quantos anos de matrimônio, e por aí foi, até revelar que tinham três filhos . Nesse momento a esposa do Paulo interrompe e corrige: não, nós temos dois filhos. A vidente retrucou dizendo que estava vendo três. E aí começou um bate-boca: – Temos dois, vejo três, temos dois, vejo três…
O Paulo, todo desconcertado e gaguejando, revelou que na realidade eram três, um era só dele. Ainda muito jovem e solteiro engravidara uma namorada. Dessa relação nasceu um menino cuja paternidade ele não assumiu e não revelou o fato a ninguém. A vidente desvelara segredo guardado a sete chaves.
A mulher sentiu-se traída, entendendo que o marido não jogara limpo com ela. Chegou a pedir o divórcio. O casamento só não terminou porque o Paulo fez valer sua lábia e seus argumentos. Afinal, ele é o Paulo Impossível, para quem tudo é possível.
Por Gilberto Silos.
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