Perguntas
Com muita frequência, ouço pessoas lamentando essa situação mundial criada pela pandemia do covid-19. Há quem use a expressão “tempos apocalípticos”. O Apocalipse bíblico finalmente teria chegado para definir o destino da humanidade? Quem sabe a resposta ou tem alguma certeza a respeito? Nem religiosos, nem agnósticos, se arriscam a opinar.
É inegável o sofrimento das pessoas, pelas perdas humanas e materiais. Mas, penso que a angústia ante um amanhã sem perspectivas pesa tanto quanto a dura realidade do momento presente.
Habituamo-nos a viver com os pés no presente e os olhos no futuro. Confiamos nossa estabilidade e porvir à nossa capacidade de idealizar, projetar, planejar e executar. Sempre nos valemos desse receituário e ele agora parece pouco servir para nos livrar dessa enrascada.
Ouço muita gente dizer que estamos vivendo num verdadeiro “caos”, onde o futuro é incerto e vida confunde-se com o aleatório.
Caos, o que vem a ser isso? Seu significado popular é “confusão”, “desorganização”, “indefinição”. A palavra provém do grego “kháos” ou “chaos” e significa “Vazio”. Na interpretação à luz das Tradições Místicas pode significar profundeza ou abismo; ou então referir-se à Substância Primordial donde se originariam todos os seres e formas existentes no Universo.
José Saramago afirma que “caos é uma ordem por decifrar.” Para Max Heindel, místico cristão, “caos é a sementeira do Cosmos” e “o mundo visível dos sentidos é uma revelação de suas potencialidades.” Segundo alguns físicos é uma ciência de processo e não de afirmação, de “vir-a-ser”e não de “ser”.
Estamos vivendo um caos no seu sentido verdadeiro? Merece uma boa reflexão.
Essa pandemia ameaça estruturas até então consolidadas, além do nosso estilo de vida. Não seria uma forma de converter tudo num grande vazio antecedendo o surgimento de uma nova ordem de coisas? De repensar e reinventar um novo mundo e uma nova humanidade?
Não se aplica aí a metáfora da lagosta que só cresce quando abandona suas carapaças protetoras? Ou da águia que num momento de sua existência destrói o próprio bico, asas e garras para renovar-se e continuar vivendo?
Seria o caso, de mesmo ficando expostos e vulneráveis, mudarmos nossas estruturas de proteção para continuarmos a crescer como Humanidade? Queimar os navios para impossibilitar o retorno?
São muitas e quase infinitas as perguntas.
Por Gilberto Silos
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