POETA “Tarcísio Bregalda” palavra vento serve para mover moinho”.
Por Teresa Bendini
Ele “pensa pelos barrancos e rema no sentido contrário para avistar mais uma vez o lugar da infância”. Brinca de amarelinha com seus poemas ao relento. Espalha pelo chão os seus múltiplos escritos e fica esperando uma tênue chuva de pequeninas estrelas jorrar seu brilho sobre os papéis cheios de verso. Levado pela intensidade da luz, ele seleciona os poemas. Vai separando, folha por folha, tomando o cuidado de verificar as páginas mais brilhantes. Compôs-se o Livro, gerado pelas estrelas. Essa é uma das falas de um de seus prefaciadores, José de Anchieta Costa. Publicou já quatro: O primeiro( Os Riscos das Margens 1997) foi prefaciado por Manoel de Barros.
Do seu terceiro livro: “O Pensar pelos Barrancos”, Manoel de Barros falou: ” Este Zé Bulgarinho me comoveu. Uma linguagem renovada e humana. Partiu no erro de um relâmpago é ótimo. Acho que você chegou a uma linguagem própria com seus humildes personagens, que são gente comum, de rua retratados poeticamente por você.”
Antonio Cândido assim falou do mesmo livro: “O ciclo de Zé Bulgarinho me parece muito bom, com uma dosagem de humor e de patético.” Severino Antonio seu amigo de muitos anos, assim disse: “Uma poesia filosófica, longamente pensada”. Olga de Sá também prefaciou o livro, porém, para isso, teve que “amanhecer poeta”.
Ele é o homem! Um ser essencialmente ESSÊNCIA. Conheci por intermédio de Severino Antonio. Outro ser fantástico. Em Cachoeira Paulista, durante a Semana Ruth Guimarães. Será que foi ela, a FADA que me fez conhecer essas pérolas magníficas? Sou daquelas que gosta de repartir riquezas. Então tenho que falar dessa Poesia metafísica. “Para a poesia dar liga, o poeta precisa comer bastante lodo, guardar as penas que caem dos canarinhos e estendê-las nos varais, ter saudades dos carrapatos, não amedrontar as cobras, fazer trilhas para as borboletas, nunca pegar vaga-lumes, pois eles têm o dom da luminescência e purificam as noites. Passar o dia contando beija-flores, e a noite, as estrelas.” (p. 67 – do livro: O Pensar pelos Barrancos).
Do Livro ITINERAU (2011), transcrevo essa outra pérola: “Tenho pressa em reconstruir o sonho e a comédia. Tenho pressa do reencontro com os signos do pensamento livre. Pressa em reler o poema apócrifo. Faço combinações com as palavras, o que esvazia o nada. Tenho a pretensão maior de um dia poder mostrar minha poesia ao Criador. Tenho uma pressa humana e utópica que me atormenta e escorre como saliva goela abaixo”.
NAVEGANÇAS EM TRÊS LINHAS, prefaciado pelo amigo Severino Antonio, é o seu último livro (2014). É dele o poema Herança. “Meu pai antes de sua morte: Meus filhos, não quero que briguem por causa das minhas coisas: O rádio, o jogo de damas e a dentadura.”
Para encurtar o caminho é o título desse outro poema do mesmo livro. “Quando há escureza, sigo o atalho para o brilho…da bolinha de gude mais linda da infância.” Para terminar transcrevo o poema inédito que ele me enviou há uns dias. Nesse poema, o poeta quixotesco fala do seu amor por Dom Quixote de La Mancha.
“A pena no lugar da lança afiada e derradeira
(que decepa, sem piedade alguma).
A palavra que varou a ferrugem dos séculos afora
com lampejos, iluminações,
silêncios (os visíveis e os invisíveis),
desde a anterioridade,
no despertar de milênios e estrelas tantas
visitando a narrativa e aventura da humanidade
na pena de Miguel de Cervantes Saavedra”.
Tarcísio Bregalda
2017
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