Primeiros rabiscos

PRIMEIROS RABISCOS

Por Ronie Von  Rosa Martins

 

A palavra. Minha letra. Intenção. Tensão. Meu verbo que é de muitos.

Um ritmo. Um átimo.

A palavra é minha? Ou sopro soprado por todos. Sobra, restolho, de tudo que é visto, pensado, sentido.

Sim. Resto. Resumo. A palavra é a ponta. Do Iceberg. Aquilo que congela. Solidifica. Pesa.

A palavra. Um risco. Uma linha que representa. Que tenta. Que luta por transformar energia caótica em sentido e comunicação.

Ela alimenta, acalenta, conforta, embala.

Ela lamenta, afugenta, contorce, engana.

A palavra é a dança. Das letras, dos sons. Pulsão. Atração e repulsão.

Flor e faca.

Beijo e murro.

Um mundo. Mudo. Sem a palavra. Com a palavra, também surdo. Entrelaçada a palavra cria um grande eco. Um vazio de voz. Milhões de vozes. Mesma palavra. Sempre a mesma.

Ela é vaidosa. E tripudia do alheio vocábulo. Zomba da diferença, do ritmo que não o dela.

Minha palavra se traveste de novidade mas é vetusta. Antiga. Arcaica. Obsoleta.

Pois é eco. De todos os ecos. Senso. Comum.

Mas minha palavra também é sísmica. Alcoólatra. Maldita. E resmunga um não sentido.

Minha palavra desenha em verbo não a imagem, mas a voragem. Não representa, inventa.

Inventa.

Venta. Velocidade do ar. Deslocamento. Palavra-brisa-tufão. Também marasmo. Palavra-marasmo.

O que se pretende. Nem sempre é o que se consegue.

Minha palavra salta – forço o movimento –  mesmo com joelhos desprovidos de cartilagens.

Minha palavra segue aos tombos o bailar da folha que se afoga – incrivelmente pesada – na água.

Minha folha não é leve. Leva no dorso. Torto. Um grito. Que se afunda.

Minha palavra é tola. Acredita ser o que escreve. É ridícula. Mas é a que tenho. É a que posso.

Eco e grito rasgado.

Compasso e desvario.

Gaiola e céu aberto.

Rasa e densa.

Saúde e loucura.

Expressão e silêncio.

Sobre Ronie Von Rosa Martins 27 Artigos
É mestre em Educação pelo Instituto Federal de Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense (2012), especialista em Literatura Contemporânea Brasileira pela Universidade Federal de Pelotas(2002) e também especialista em Linguagens Verbais e visuais e suas Tecnologias pelo IFSul-Pel.(2008). Atua como professor na rede Estadual da cidade de Cerrito e na rede municipal da cidade de Pedro Osório, Rio grande do Sul. Tem experiência nas áreas de Literatura e Formação de professores, com ênfase na articulação entre Literatura e filosofias da diferença.

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