Quando escrevi a letra de Xingu Disco estava com 22 anos.
Eu voltara de uma viagem por Piauí, Maranhão e Alagoas. Ao aportar em São Paulo assisti ao filme Bye Bye Brasil. A trilha buarquiana me influenciou sobremaneira e resolvi compor algo naqueles tons e maneiras. Originalmente era para ser um frevo.
Uma manhã, contudo, peguei um ônibus na companhia do Laert Sarrumor e descemos a Brigadeiro Luiz Antônio, rumo ao centro de São Paulo. No interior do coletivo mostrei o papel com os versos a ele.
Na hora, já lhe ocorreu a alteração do ritmo para uma discoteca nos moldes da Lady Zu. Concordei com a proposta.
Ficamos ali no CMTC cantando em cima das estrofes para pasmo dos passageiros, motorista e cobrador. Burilamos a música até que a testamos num pocket show na faculdade de jornalismo, na voz do Pituco Freitas. Foi daquelas que bateu com força no ato. Logo entrou no primeiro disco do Língua de Trapo, com o auxílio luxuoso de Zé Rodrix pilotando sintetizadores e entretantos.
De lá para cá, até citações em teses de mestrado Xingu Disco teve. Junto com Concheta, Os metaleiros também amam, Tragédia Afrodisíaca, Como é bom ser punk, é uma das mais populares criações do grupo. De fato, como dizem muitos que a ouvem, se trata de uma canção profética.
Só lamento que, de 1982 pra cá, nada tenha melhorado na vida dos indígenas. A nossa parte, todavia, foi feita: botamos pra circular a nossa indignação.
(Carlos Castelo / Laert Sarrumor)
Tiveram a manha de me emancipar
Sabe como é, eu era índio no Pará
Aí pintou toda aquela transação
Era Funai, fazenda e demarcação
A nossa tribo Ubajara se alterou
Nosso cacique comprou um televisor
E até o pajé, que curtia misticismo
Se converteu, de cara, pro catolicismo
Xingu, Xingu, Xingu
O índio já tomou
E agora até trocou
O tupi pelo I love you
Xingu, Xingu, Xingu
O índio já tomou
E agora até trocou
A Iracema pela lady Zu
A minha irmã
foi trabalhar na Zona
Franca de Manaus,
no comércio de japona
Peri, meu mano, é campeão de fliperama
Meu pai é revendedor dos produtos da Brahma
E se não fosse o milagre brasileiro
Os meus parentes inda eram seringueiros
E eu não seria presidente da “Brazil
United Corporation Bauxita and Steel”
Xingu…
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