Queimar os navios

 

Queimar os navios

Segundo a lenda quem teria feito isso foi o conquistador espanhol Hernán Cortez, ao chegar ao México no século XVI. O objetivo era conquistar o país dos astecas, mas os soldados temiam enfrentar o desconhecido – a terra e seus habitantes.

Para evitar que tentassem a fuga, Cortez mandou atear fogo nos navios. Não havia como retroceder. Ou venciam o inimigo ou morriam. Que dilema!

Para os estudiosos do comportamento humano, metaforicamente os navios simbolizam ou representam a zona de conforto de cada um, seu “chão”, sua proteção contra os riscos e incertezas. A maioria esmagadora das pessoas é ávida por segurança.

Porém, o que é segurança? Considerando o mundo da atualidade, onde e em que circunstâncias podemos nos sentir efetivamente seguros? Qual  grau de certezas permeia nossas vidas?

Não há segurança real, pois o contrário seria admitir a imutabilidade  e a perenidade das coisas e situações. Hoje , mais do  que em qualquer época, vivemos num mundo de incertezas.

O filósofo Heráclito de Éfeso já afirmava no século VI a.C que “nada no mundo é permanente, exceto a mudança. Em tempos mais recentes, o filósofo Zygmunt Baumann declarou: “Escolhi chamar de modernidade líquida a crescente convicção de que a mudança é uma coisa permanente e a incerteza é a única certeza”.

Alan Watts, décadas atrás, abordava esse tema em seu livro “A Sabedoria da Insegurança”. Nele exaltou a sabedoria da incerteza por permitir que o desconhecido aconteça.

Resistir a situações e  experiências novas é tentar bloquear o fluxo natural da vida.  Elas podem até ser potencialmente ameaçadoras, mas trazem também oportunidades de crescimento.

A tendência geral das pessoas é de permanecer no controle dos fatos e resistir a qualquer evento capaz de desafiar sua índole controladora. Isso é uma compulsão resultante do medo, sobretudo de perdas, de frustrações e falsas expectativas.

No fundo, manter-se na zona de conforto é uma forma ilusória de evitar ou não conviver com crises, quando elas podem ser justamente o efeito desse comportamento. Muitos depoimentos revelam que o momento mais dramático no meio das crises não está ligado à gravidade da situação, mas ao medo em relação a elas. 

Segundo algumas correntes esotéricas e espiritualistas, o medo é uma herança ancestral, arquetípica, da humanidade, originária da chamada “Queda” do homem, conforme relatada no Livro do Gênesis, no Antigo Testamento. Mas, isso já é outra história…

Por Gilberto Silos   

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Sobre Gilberto Silos 244 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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