Quem pode imaginar?

 

Quem pode imaginar?

Torre d’água atingida por bala de canhão durante Revolução de 1924. Foto de Gustavo Prugner.

Você, caro leitor, certamente já deve ter assistido a vários filmes de guerra, mesmo não sendo o gênero cinematográfico de sua preferência. Filmes contendo cenas de bombardeios e destruição de cidades. Imagens causadoras de horror, situações das quais, na vida real, ninguém gostaria de protagonizar.

Aqui no Brasil, às novas gerações é inimaginável pensar em conflitos armados dentro do nosso país. As lutas nas quais estivemos diretamente envolvidos aconteceram em terras distantes: na Guerra da Tríplice Aliança, contra o Paraguai, no século XIX; e lutando na Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha, em terras italianas.

Embora a abordagem dos compêndios de História não seja muito ampla a esse respeito, nosso território já foi palco de lutas fratricidas. Foram revoluções de curta duração, porém, deixando um saldo de mortos, feridos e destruição. Duas delas ocorreram no Estado de São Paulo, em 1924 e 1932.
2024 é o marco centenário de uma revolução travada principalmente na Capital, entre as forças rebeldes e as tropas do governo federal, presidido por Artur Bernardes.

Alguém pode imaginar São Paulo bombardeada, combates ocorrendo nas ruas? O jornal O Estado de S. Paulo, em suas edições de julho de 1924, publicou várias reportagens a respeito. Mantendo a ortografia da época, transcrevemos abaixo alguns trechos dessas reportagens:

“O bairro da Lapa, desde os primeiros momentos da revolução, começou a ser procurado para refúgio das famílias desamparadas, que fugiram aos rigores da fuzilaria e do bombardeio. Tornando-se logo insuficientes os recursos próprios para socorrer tanta gente, as pessoas de coração bem formado trataram logo de amparar os infelizes, proporcionando-lhes o abrigo e o conforto de que precisavam…”.
“Dos districtos da capital, pode-se dizer que o da Penha é o que mais tem soffrido as consequências desta situação anormal. Como se sabe foi por alli que chegaram os contingentes legaes , vindos de Mogy das Cruzes. Com o troar dos canhões, assentados nas vizinhanças, as famílias do logar muito se impressionaram, registrando-se scenas verdadeiramente lancinantes”.
A população fugiu em massa. Uns partiram para destinos certos, outros para o mato e outros ainda para os campos (…) De sorte que os que não viessem a perecer de susto ou de medo, ou em consequência de uma bala, viriam fatalmente a soffrer de sede ou de fome. Só não sahiu da Penha quem não pode se locomover. Nos casebres ao longo da estrada de rodagem da Penha a São Miguel, e dahi até Itaquaquecetuba estão abrigadas centenas de famílias, que apenas conduziram a roupa do corpo e alimentação para os primeiros dias…”.

Sabe-se que cerca de 50 mil pessoas abandonaram São Paulo naqueles dias tenebrosos de julho de 1924, procurando refúgio no interior. Difícil imaginar que tudo isso tenha aqui ocorrido, como se fosse uma daquelas antigas produções de Hollywood.

Por Gilberto Silos

Revolução Constitucionalista de 1932
Sobre Gilberto Silos 219 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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