Quero apenas viver
Ando cansado dessas coisas que compõem o cotidiano, como pressa, barulho, agitação, poluição, o artificialismo, a dicotomia ideológica esquerda-direita; essa cultura decadente onde não há mais espaço para talento e beleza; o dogmatismo religioso e a banalização da violência. Tudo isto me enfastia e torna os dias desinteressantes.
A vida tornou-se muito complexa. Penso que lhe falta simplicidade, bons períodos de ócio contemplativo, mais silêncio. Uma dose de minimalismo pode lhe fazer bem.
Não vivemos de uma forma saudável. David Thoreau, poeta e filósofo transcendentalista, amava os devaneios silenciosos, a alegria da contemplação. Seus dias no lago Walden eram longos e sem pressa. “Eu gosto de dar à minha vida uma margem ampla”, dizia ele.
Quanta margem deixamos para nossas vidas? Quanto tempo dedicamos a fazer aquilo que mais apreciamos e que dá um sentido verdadeiro à nossa existência?
Consumimos nossas horas correndo freneticamente para conquistar algo como estabilidade, status social, uma situação financeira que nos garanta um bom sono, filhos que nos façam sentir orgulho, um casamento feliz e por aí vai.
Queremos tanto “ter”, ter tanta coisa, que esquecemos de “ser”, de ser nós mesmos, sem os disfarces que a sociedade nos impõe. E, para completar esse desvario todo, somos inveterados consumistas. Não estarão nossos lares, armários e agendas permanentemente lotados? Entulhados de coisas que nos fazem desperdiçar o melhor da vida? Coisas ´dispensáveis, sem nenhum vínculo real com a nossa essência.
Tornamo-nos uma “sociedade descartável”: as embalagens do fast food, as sacolas dos supermercados, garrafas, eletrodomésticos, roupas, tudo produto de uma obsolescência planejada para manter o sistema capitalista. Até nossos relacionamentos são rapidamente” jogados fora”, quando sua utilidade se esgota.
A busca da simplicidade num mundo utilitarista é um grande desafio. Simplificar nossas vidas significa também conservar o que nos pertence interiormente como atributos do espírito. Reservar algum tempo, todos os dias, para rituais pessoais de estabilidade interior, como meditar, ficar em profundo silêncio, cultivar a espiritualidade, fazer caminhadas ao ar livre. São apenas alguns exemplos do que se pode fazer para a manutenção do equilíbrio mental e emocional. Em verdade, não há manuais para isso, nem algo parecido com “receitas de bolo”. Cada deve encontrar seu próprio caminho, de acordo com a sua individualidade. Só nós mesmos podemos viver nossas vidas da maneira que escolhemos. Individualmente, trata-se de um encontro consigo mesmo. É o melhor que cada um pode fazer para voltar a viver de verdade. É o que eu quero para mim: apenas viver.
Por Gilberto Silos
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