REFLEXÕES
Por Gilberto Silos
Goethe afirmou que devemos ouvir pelo menos uma pequena canção todos os dias, ler um bom poema, contemplar uma pintura e, se possível, dizer algumas palavras sensatas.
Esse pensamento pode parecer meio extemporâneo nos dias atuais, nestes tempos de pós-modernidade. Com toda essa violência, intolerância, desencanto em relação à religião e à política, com a falência das ideologias, o que o poeta alemão aconselha ainda é plausível ? Leva jeito de uma contradição sem saída, neste mundo carente de sensibilidade, em que utopias dão lugar a distopias.
Ao longo da história o homem sempre idealizou utopias, embalado pela expectativa de construir um mundo melhor. Lutou por elas , convencido da possibilidade de concretizá-las por meio de processos de transformação e do surgimento de novos paradigmas. Essa capacidade humana já se esgotou ?
O que notabiliza o paradigma hoje predominante é o pensamento materialista e seus correlatos como o saber analítico, o individualismo; o espírito competitivo em detrimento da cooperação; a exaltação da eficiência e do desempenho. Em síntese, a promoção do ego.
É a realidade que aí está. Tem-se a impressão de que no homem a vida pulsa em irremediável conflito consigo mesma, tal a falta de sensibilidade que permeia as relações entre as pessoas. Porém, é isso que queremos verdadeiramente ? É assim que esperamos encontrar a tão falada felicidade ou pelo menos um estado de harmonia ?
Por que não repensarmos tudo o que estamos vivendo , dando oportunidade à vida e a nós mesmos ? Talvez uma esperança renascesse em nossa consciência.
Sonharíamos muito alto imaginando um mundo onde o mais elevado conhecimento seria capaz de admitir a unidade existente entre todas as coisas ? Talvez isso nos levasse a ponderar que o homem não está no centro do Cosmo, mas dele constitui parte integrante; que ele é um microcosmo em que as leis e energias que o mantêm são as mesmas que equilibram o Universo, formando,ambos, uma unidade orgânica.
A oportunidade de um novo paradigma seria a procura do autoconhecimento, o que implica tomar consciência de sua própria essência divina. Esse paradigma se alicerçaria na espiritualidade, no desenvolvimento da consciência, na interioridade, na solidariedade.
Alguém poderá objetar estas reflexões alegando que o cenário atual é pouco inspirador para cogitar utopias. Afinal, no mundo em que vivemos o mar não está para peixe. Lembramos, então, que no poema Fausto, de Goethe, o luciférico Mefistófeles proclama: – Sou parte daquela força que faz o mal para promover o bem.
Este é um tema aberto a infinitas reflexões.
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