Réginaldo Poeta Gomes – 10 anos de saudade e lembrança todo dia
Esta não é simplesmente uma matéria, é o receptáculo de uma mensagem que atravessará dimensões até chegar ao Réginaldo Poeta Gomes.
Celebramos no sábado, 6 de julho, o aniversário do encantado Réginaldo Poeta Gomes, no sarau Ciranda de Poesia, da Cia Cultural Bola de Meia, com a família: Zenilda Lua e Brisa Almeida, a participação de: Gabriel Amaral, Poeta Moraes, Carlos Abranches, Oswaldo Almeida Jr., Mirian Cris, Pedro Palma e Wallace Puosso, e a presença dos Amigos, Leo Mandi, Ângela Tuti, Fernando Selmer, Sergio Ponti, Fernando Scarpel, Cláudia Regina, Paulo Barja, Analu, Moacyr Pinto, Professora Joana D’Arc, Deo Lopes, Alcemir Palma, Giba, Wagner Balieiro, Joca Faria, Thais Almeida, Franciolli Santos, Thais Lopes dentre tantos.
O encontro foi um ritual sagrado e emocionante, onde partilhamos as lembranças de momentos marcantes, a vida e a obra do Reginaldo Poeta. Nas falas dos amigos e amigas foi reforçada sua singularidade, a beleza do amor pulsante e envolvente que há na família. Logo no início do sarau, Zenilda compartilhou: “Às vezes eu penso que ele era um mito, que ele era uma fantasia, que ele não existia”.
Reginaldo e Zenilda foram protagonistas de uma história de amor que rendeu poemas, canções, livros, peça de teatro e a obra-prima (como disse Carlos Abranches): Brisa Almeida, além de muita inspiração e afetos. Quem testemunhou diz ser a história de amor mais linda que se viu.
“Acreditava piamente em sua profunda e delicada capacidade de, ao seu modo, colecionar afetos e semear aromas de bondade adocicada por onde passava. esse era, foi e é o meu amor”.
Zenilda Lua, Quando Chorei No Ombro do Meu Amor. 2017.
Seria preciso muitos livros para resumir o poeta. E é responsabilidade grande falar dele. Entre suas peculiaridades, no carinho com os amigos, estava o hábito de presenteá-los com fitas cassetes, depois cds, de coletâneas de artistas escolhidos por ele com suas músicas preferidas, também de compartilhar poemas regularmente por e-mail. Reginaldo reunia as tribos, agregava os amigos, ajudava as pessoas, amava as pessoas. Seus amigos expressaram o quão importantes são as influências de Reginaldo em suas vidas até hoje.
Selmer ressaltou os aspectos mágicos da presença do Reginaldo, que mesmo quando chateado, no trânsito, de ver o poeta caminhando, já se sentia melhor. Wagner Balieiro lembrou das suas contribuições ao movimento estudantil da Univap. Wallace dividiu com o público sobre o exercício de criação ‘Demora, Mas Chega’, que consistia em produzir um poema em tempo específico sob mote criado vez por um, vez por outro participante. Rememorou-se o ‘Poesia no Prato’, evento organizado em locais públicos em parceria da comunidade, com poesia e quitutes. Poeta Moraes destacou as críticas sociais presentes na obra de Reginaldo. Confirmando este olhar, extraí esta, do livro Pra Não Chover Nos Ombros de Meu Amor, de 2013, que aponta a atrocidade da desocupação do Pinheirinho:
Escombros
Foi pau
Foi pedra
Foi tiro
Foi bomba
Foi o fim de um sonho
Foi o fim de um caminho…
– as máquinas não respiravam –
Logo tudo veio abaixo:
E lá se foi o Pinheirinho!
Zenilda em seu livro “Quando Chorei No Ombro do Meu Amor”, conta da sua relação com o poeta e da lida com sua partida. Ao final, dá uma das mais fieis descrições da saudade:
“Viver a morte do amor de nossas vidas é paralisante. É como se a alma assumisse do corpo e o coração por alguns momentos parasse, trépido e cativo. Nenhuma carícia afetiva nos eleva. Por um tempo ficamos inaudíveis e sem voz. A superação só chega bem depois de um mar de insônia e de mil tonéis de lágrimas choradas. vem manca, em conta gotinhas, mas vem”.
Zenilda Lua, Quando Chorei No Ombro do Meu Amor. 2017.
Ah, Réginaldo! Tão amado, tão solidário e feliz, tão positivo e cativante… Quanto mais o conheço mais apaixonado fico e passo a compreendê-lo como um antídoto a estes tempos de guerra. Poeta, você faz falta! Muita falta! Espero encontrá-lo em sonho ou no próximo plano para festar contigo.
Dito isso, eis a mensagem da mensagem. A carta da amada, da poesia do poeta:
“Entramos no décimo ano de tua falta. Uma década. Mal posso acreditar. Parece que foi no mês passado, eu lendo uma crônica de D. Ruth Guimarães enquanto você fazia macarrão alho&óleo, ensinando-me o tempo certo da fervura da água pra poder mergulhar o macarrão na panela. Contando os anos que faltavam pra se aposentar, e comprar um apartamentozinho na praia de Cabo Branco pra gente passar a época de frio lá em João Pessoa.
Sua carteira de trabalho, os últimos holerites, a foto no crachá do SESC seguem guardados na primeira gaveta da cômoda bege, ao lado da xerox da carteirinha do plano de saúde.
Quando você ficou sem palavras a gente ainda conseguia lê poemas na pele lisinha de suas mãos finas. Sabia que as mãos de Brisa são iguais as suas? Pois são.
Essa semana o moço da operadora Vivo fez contato acerca da linha fixa do telefone que você pediu pra instalar. Propôs plano especial. Novo processo de portabilidade sem custo pra abolir o número do telefone fixo. Eu disse que precisava da sua aprovação e o despachei com desejo de sorte e bênçãos diárias.
Você tinha que ver como surgiram novos aportes tecnológicos nesses dez anos, Poeta! Não fazemos mais depósito ou transferência bancária, agora pagamos tudo por PIX.
Não chamamos mais Táxi, é Uber. iPhone e Smartphone estão em todas as mãos e combinam a funcionalidade de um telefone com as funcionalidades de um computador. E a Inteligência Artificial? Até Elis Regina apareceu cantando “Como nossos pais”, ao lado de Maria Rita numa propaganda da Volkswagem. Emocionou a gente, pense!
Aplicativos de deliverys estão em toda parte. Do celular à mesa. Comida quentinha com sabor e a curva do crescimento continua beneficiando a classe dominante, sim sinhô.
O mundo todo tá “metaversado”. Um modo virtual 3D que interage e realiza qualquer atividade, desde trabalho, compras e lazer. Até tu, que sempre foi dado as novidades tecnológicas ficaria com semblante de impactado.
Vários acontecimentos escancarou o que de mais perverso existe na humanidade nestes últimos anos. Extrema Direita liderou o país. Vários retrocessos, côncavos&convexos. Gente pedindo intervenção militar, enrolados na bandeira do Brasil, vestindo a camisa da seleção, caminhando e cantando e seguindo a canção do Vandré. Pensa numa dissonância polifônica? Sofremos também com uma pandemia que durou 2 anos e matou centenas de milhares de pessoas.
No ano 2020, foi inaugurada a ponte mais cara da cidade. Ponte estaiada, o arco da Inovação, que a gente apelidou cuidadosamente de o Arco da exibição. Liga a avenida Jorge Zarur à Avenida Cassiano Ricardo e custou centenas de milhões. A noite quando iluminada num lilás clarinho, puxada pro roxo, fica bonita e tão nítida quanto um poema de Adélia.
Corinthians ganhou o campeonato paulista de 2017, 2018 e 2019.
Ganhei o título de cidadã joseense e você ganhou 2 salas de leituras com seu nome, homem! No pavilhão Marina Crespi dentro do Parque Vicentina Aranha. Um sonho. Uma dádiva colorida e apropriada com exemplares raros e perfumosos que recria o paraíso entre a 9 de Julho e a Avenida São João.
“Digo a palavra que nunca foi dita”.
Zé de Maria, o pai de Marquinho, faleceu, Simoninha, e D. Terezinha, sua mãe. Jô Soares e Ziraldo. Zé Celso, Erasmo Carlos, Tina Turner, Rita Lee, Gal Costa, Pelé, Belchior e a rainha Elizabeth.
Falta pouco tempo pro Boy se aposentar, nossas amigas e amigos continuam sendo “bálsamo benigno, porto seguro”, sumo de ternura com presença e boa querência. Brisa tornou-se psicóloga clinica com especialização em logoterapia, e se prepara para um estudo importante em Cultura Popular.
Você teria muito orgulho de nossa menina, nosso ventinho suave tornou-se uma mulher alfa, forte, criativa, acolhedora, ousada e sensível. “Filha de poetas, poesia é”. Assim ela se apresenta e assim me despeço dizendo que
sem você fiquei estranha
triste, escassa, troncha e rasa,
doendo igual andorinha
quando lhe arrancam uma asa,
mas com você aprendi;
Resiliência amiúde,
“pois se Deus pode ser God,
a vida pode ser Good.”
Deus é bom.
A vida é boa. Uso tuas palavras pra compor meus silêncios como disse Manoel de Barros.”
Zenilda Lua – Julho/2024.
@portalentrementes Ciranda de Poesia na Cia Bola de Meia em SJC…um grupo de poetas, escritores e artistas da cidade de São José dos Campos se reuniram na CIA Bola de Meia para um tributo ao Reginaldo Poeta Gomes, o poeta que já não está entre nós fisicamente, mas está mais vivo que nunca em nossos corações. Viva o Reginaldo! Imagens: Franciolli Santos #reginaldopoeta #saraudepoesia #ciabolademeia #poesia #literatura #foryou #foryoupage
“Por mais que nos sintamos tentados a representação da totalidade do que quer que seja, essa ação jamais será total, posto que ao interpretante cabe suas inferências”
Jornalista: 0083121/SP
Crédito das Imagens: Franciolli Santos
Não há como não se emocionar com tanta beleza e amor neste mundo tão seco de afetos. Parabéns aos organizadores do evento. Reginaldo, Zenilda e Brisa merecem.
Gilberto Silos