Relembrando as origens

Foto: Por Tiago Maziero

Relembrando as origens

Há muitos anos não visito São José do Rio Pardo. Lá deixei minhas origens. Meus pais foram para aquela cidade meses depois de se casarem. Acharam trabalho, mas de imediato não conseguiram alugar uma casa para morar. Tiveram de hospedar-se num hotel. Hotel  muito simples, perto da estação ferroviária. Minha mãe já se encontrava no último mês de gravidez. 

Eu, o primogênito de cinco filhos, acabei nascendo num quarto do hotel, pelas mãos da parteira Dona Vicentina. Tão mirradinho nasci, que ela me ergueu com a palma da mão direita.

Tempos difíceis aqueles de 1941. A Europa convulsionada pela Segunda Guerra. Os exércitos de Hitler invadiam a Rússia com mais de três milhões de soldados. A força aérea japonesa bombardeava a base americana de Pearl Harbor. Nem o Brasil escapou. Meses depois,  submarinos alemães torpedeavam e afundavam navios brasileiros.

Minha família permaneceu por mais dois anos em São José do Rio  Pardo, tempo suficiente para nascer mais um bebê, dessa vez uma menina.

A vida acabou por tomar outro rumo. Meus pais retornaram a Casa Branca, cidade vizinha, onde nasceram outros três filhos.

Em Casa Branca passei minha infância e adolescência. Em 1961, com dezenove anos, resolvi mudar meu rumo. Botei os pés na estrada e fui tentar a vida em São Paulo. A sorte estava lançada. Na capital vivi treze anos, até aportar em São José dos Campos.

Meio que à distância, sempre procurei acompanhar as notícias de São José do Rio Pardo, levado por um sentimento nostálgico.

Essa cidade, localizada no Estado de São Paulo, conta hoje com quase 60 mil habitantes. As águas do Rio Pardo banham parte de sua área urbana. Ali, há um local pitoresco, uma pequena ilha fluvial, com boa estrutura para lazer, e acesso por uma pequena ponte. E próxima, uma grande ponte metálica, reconstruída por Euclides da Cunha que, para supervisionar as obras, residiu na  cidade de 1898 a 1901.

 

O fato extraordinário é que , às margens do rio, numa cabana de zinco,  Euclides da Cunha, escreveu “Os Sertões”, uma das obras mais importantes da literatura brasileira. Essa cabana, preservada e protegida por uma espécie de redoma de vidro, é considerada patrimônio nacional desde 1937. A ponte construída sobre o Rio Pardo é tombada pelo Condephaat como patrimônio histórico.

Euclides, embora nascido em Cantagalo no Estado do Rio de Janeiro, foi “adotado” pela  gente rio-pardense. Tanto é verdade que há 85 anos foi instituída a “Semana Euclidiana”, um dos mais importantes  eventos literários do país. Realizada anualmente no mês de agosto, de sua programação constam conferências, saraus, oficinas literárias, exposições de artesanato e artes plásticas, apresentações musicais e peças de teatro.

E eu, filho distante que sou, fico sempre protelando revisitar meu torrão natal e matar saudades às margens do Rio Pardo.

 

Por Gilberto Silos 

Sobre Gilberto Silos 225 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

2 Comentários

  1. Nossas origens não sai de nossas vidas, mesmo adotando outros lugares mas e lá que está o nosso umbigo. Até parece que ainda nos ligamos ao local. Lindo texto

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