Uma das escritoras que mais admiro em língua portuguesa.
Excerto da resenha sobre FILHOS DE DEUS – contos e monólogos
“(…) FILHOS DE DEUS é o título de um dos contos, cujo enredo gira em torno do papel da mulher na construção da sociedade, na vida familiar, exaltando a figura da mãe trabalhadora mesmo em cenários adversos de abandono. Tem um lado fantástico, (o matraquear da máquina de costura que só a menina ouvia) …pela maneira poética de contar e pelo cenário de fantasia, lembra-me algumas crónicas de Mia Couto. Neste conto, como em grande parte dos outros textos, há um narrador participante que confere vivacidade e verosimilhança, um narrador que se envolve com a trama mas, lembremo-nos, todos os personagens e situações são pura criação, pedaços de realidade amassados com o tempero e a pena sábia da autora.
O tema da Mulher é trabalhado sob diversos ângulos: reencontramo-lo em DOCES VIZINHAS, uma história simples contada com muita sobriedade e um fino humor, acerca das relações que se tecem no quotidiano, a proximidade relativa que não força portas e estabelece uma barreira invisível de respeito contido, como um vidro que deixa ver, mas não tocar. Também em FALSA FÁBULA, um monólogo magoado que alude a um pai abandónico e à suprema resistência de uma mãe, que apresenta uma imagem positiva do pai à filha, construída sobre uma ficção que se impõe aos poucos como verdade. É uma história de estranheza e dor entre duas mulheres, de cegueira, de aceitação e de lucidez, que acaba por implodir pela crueza das memórias.
Em várias narrativas há outra ideia que ressalta, a da cumplicidade intrínseca entre mulheres, tecida não raras vezes através da partilha de silêncios e omissões. Muitas são as histórias que mergulham o leitor na acidez das traições e da deslealdade, tendo sempre a Mulher como figura basilar (…)”.
Luísa Fresta, portuguesa e angolana, viveu a maior parte da sua juventude em Angola, país com o qual mantém laços familiares e culturais; reside em Portugal desde 1993.
Desde 2012 assina crónicas e artigos de opinião em jornais culturais, revistas e blogues de Angola, Portugal e Brasil, essencialmente sobre livros e cinema africano francófono e lusófono. Esporadicamente publicou em sites ou portais culturais de outros países como Moçambique, Cabo Verde e Senegal.
Em 2021 e 2022 traduziu O HOMEM ENCURRALADO e ESPLANADA DO TEMPO, ambos do poeta brasileiro Germano Xavier (edição bilingue português-francês/Penalux). Em 2022 ilustrou o poemário infantojuvenil DOUTRINA DOS PITÓS, do poeta angolano Lopito Feijóo (Editorial Novembro).
Desde 2020 mantém um grupo virtual intitulado ESCOLA FECHADA/ MENTE ABERTA, criado no início da pandemia, destinado a divulgar literatura infantojuvenil e artes plásticas, nomeadamente ilustração, com especial incidência no universo lusófono e francófono. O principal objetivo é consolidar os hábitos de leitura das crianças, estimular a leitura em família e o gosto pelo desenho; e aproximar escritores e ilustradores de leitores e da comunidade escolar.
Tem textos dispersos por antologias, alguns dos quais integraram projetos pro bono, e outros premiados em Portugal e no Brasil, desde 1998; assim como um livro de poesia vencedor do prémio literário Um Bouquet de Rosas Para Ti, em Angola, atribuído pelo Memorial António Agostinho Neto (2018).
Curiosidade: o poema Casa Materna, que dá título ao livro (originalmente designado por Casa ambulante), foi distinguido com o 2º prémio de poesia internacional Conexão Literária (Câmara Municipal de Divinópolis/Brasil) quando a obra já se encontrava em processo de edição.
OBRAS DA AUTORA:
Contexturas (contos, baseados em quadros de Armanda Alves, coautora), Livros de Ontem, 2017;
Março entre meridianos (poesia, 1º prémio “Um Bouquet de Rosas para Ti”), MAAN, 2018;
Março entre meridianos (reedição), Livros de Ontem, 2019;
A Fabulosa Galinha de Angola (infantojuvenil), Editorial Novembro, 2020;
Sapataria e outros caminhos de pé posto (contos), Editorial Novembro, 2021;
Burro, Sim Senhor! (infantojuvenil), Editorial Novembro, 2021;
Casa Materna (poesia), Editorial Novembro, 2023;
A Idade da Memória (infantojuvenil, contos inspirados na poesia de Agostinho Neto. Coautora: Domingas Monte; ilustrações: Júlio Pinto), Mayamba Editora, 2023;
No País das Tropelias e Desventuras (Coleção Capitão/ infantojuvenil), Editorial Novembro, 2024.
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