SILESIUS E O NATAL
“Mesmo que Cristo nascesse mil vezes em Belém, se não nascer dentro de ti, tua alma seguirá extraviada”.
Por Gilberto Silos
Este pensamento do místico alemão Angelus Silesius (1624 a 1677) é um oportuno convite à reflexão sobre o Natal. Não sobre o Natal do consumismo desenfreado e da ceia tradicional; não sobre a alegria efêmera de um evento repetitivo em sua forma e vazio em conteúdo espiritual. Um aguardado evento, nada mais que isso.
Silesius, em poucas palavras, nos fala de algo muito maior, de uma realidade transcendente que os cristãos, em sua grande maioria, desconhecem.
O ser humano passa a maior parte de sua vida conjugando três verbos: querer, ter e fazer. Isso o mantém constantemente ativo. Mas, ele não se dá conta de que nenhum desses verbos tem um significado verdadeiramente profundo enquanto não é transcendido pelo verbo Ser. Ser é a essência de uma vida espiritual, a manifestação da consciência individual liberta de todo tipo de limitação. O que Silesius aspirava era que os homens se encontrassem nos símbolos do Natal; que entendessem que essas alegorias , – a manjedoura, a estrela, os reis magos e seus presentes – ; não dizem respeito apenas a um fato extraordinário ocorrido há mais de dois mil anos. Elas falam sobre a possibilidade de realização espiritual do próprio homem, porque se encontram simbolicamente em sua essência, em seu interior, ocultas sob o véu do dogmatismo religioso ou do materialismo.
O que esse místico queria transmitir é que o Natal deve significar, para o ser humano, a descoberta, o nascimento do Cristo em sua própria consciência, pela prática diária da solidariedade e da compaixão. Apesar de desfrutarmos de todas as vantagens e comodidades desta moderna civilização, temos vivido de modo fragmentário, não nos compreendendo a nós mesmos, nem nosso lugar no Universo. O espírito imediatista e competitivo obscurece a razão e divide os sentimentos, promovendo um verdadeiro autofagismo que, em nada, lembra os princípios essenciais do cristianismo. Chaplin, em seu famoso “O Último Discurso”, lamenta esse desvio dos ensinamentos de Cristo: “…Criamos a época da velocidade mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz em abundância, tem nos deixado na penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido”.
Que este Natal nos presenteie com bons momentos de reflexão, pois a vida tem um sentido muito mais elevado do que nossa vã filosofia possa supor.
Meu caro amigo sem palavras para sua escrita muito me deixou a reflexão, sua sensibilidade e pureza das palavras sempre me encanta. Deus te proteja e me faça digno dessa amizade. Meus parabéns Feliz Ano Novo