SOMOS SELVAGENS – uma antropofagia do contemporâneo
Fernando Selmer apresenta “lascas de iceberg em rede na varanda”
Fernando Selmer apresenta “lascas de iceberg em rede na varanda”, o segundo livro que compõe a trilogia que aborda aspectos humanos, destilados com primazia pelo olhar, pelas palavras, formas e cores do multiartista. O primeiro livro, 39k Todo Exemplar É Uma Farsa, lançado em 2022, é uma impressão daquele recorte do tempo e trata do contexto político, da pandemia, da violência urbana, com as técnicas e as características singulares do poeta.
lascas de iceberg em rede na varanda propõe-se a tratar do ser em seu apanágio mais bruto, de tabus, identidade de gênero, do erotismo à pornografia e nos convida a um automergulho, nos poços abissais de nossos recônditos mais profundos, no fundo do fundo… há aí um religare do ser com o humano, um encontro com a fonte do desejo. E também a refletir como disse José Saramago, durante uma entrevista ao Jô Soares, em 1997: “Não é a pornografia que é obscena, é a fome que é obscena”.
O livro, como a coletânea, é artesanal, o que agrega perfume, textura à leitura, tornando-a uma experiência (extra)sensorial. O livro é provocador, imperativo e obriga a leitora, o leitor, leitore, a rasgar-se, há ilustrações feitas pelo autor e convidados, há mensagens secretas, portais transdimensionais, orgasmos, receita de coquetel, de salada de beterraba com laranja, surpresas, filosofia como só Fernando Selmer poderia fazê-lo.
Com capa de Alexandre Braga (tatuador, xilogravurista) participação de: Ewerton Cruz (Pontilhismo – Hachuras), Gall Oppido (Multiartista – Fotográfo), Guilherme Paes (Poeta, Professor), Gustavo Moraes (Artista da coquetelaria – Bartender), Léo Mandi (Poeta – Músico – Ativista Xamá), Sérgio Ponti (Cineasta – Músico – Ativista ambiental), Vanessa Alves (Poeta Performer – Jornalista) e Viviane Leite (Poeta Home Chef – Ativista alimentar). O livro foi produzido pelo próprio autor, no período de janeiro a setembro de 2023 utilizando a técnica de silk-screen/estamparia. Selmer diz que acredita que com este livro tenha chagado mais próximo do que é poesia, e da concisão.
Muito mais fácil apreciar que definir sua obra. Defini-la requer alguns diplomas, afinal o artista marginal, em sua carreira explora a performance, a música, as artes plásticas, passeia pelo pós-contemporâneo, dadaísmo, concretismo, chama para o bate cabeça Ghoethe e Glauco Matoso… Por isso pedimos para que ele se definisse:
Definir as coisas é sempre bem difícil, porque, muitas vezes, quando você está em um processo criativo, você não sabe onde vai dar, a gente descobre depois. Fazendo uma análise da minha trajetória eu acredito que hoje eu não seja propriamente um escritor. Eu acho que eu tô em uma vertente de artes visuais, muito ligada às artes plásticas e a esses novos movimentos que estão surgindo de várias vertentes diferentes, porque essa coisa orgânica da arte que acontece no mundo, sobretudo nos espaços que a gente transita, se você consegue absorver isso, você vai estar sempre buscando coisas que realmente fazem sentido. Ou seja; você não vai estar num processo de engessamento, ou achar que é aquilo que você faz já tá ótimo, que você chegou no lugar que você que você queria chegar, ou a uma característica específica, antigamente se falava muito nisso: você tinha uma característica específica e aí você ficava fadado àquela característica.
Eu acho que nesse novo mundo (séc XXI) que a gente tá vivenciando não cabe mais isso. Eu acho que cabe cada vez mais um aprofundamento em coisas mais amplas, que é você criar conexões com outros artistas de outras áreas que você não domina, aprender, tentar usar aquela técnica junto da que você tá fazendo. É quase que uma antropofagia mesmo, do contemporâneo. Eu acredito muito nisso. Eu acho que é a melhor definição do meu trabalho hoje, talvez seria isso, uma antropofagia de todas essas vertentes de arte que a gente tem no momento.
Essa feira(1), por exemplo, que participei, na Biblioteca Mário de Andrade, com artistas de diferentes linguagens, trabalhando sempre com essa questão gráfica, com a palavra seja ela impressa ou usando serigrafia, xilogravura, ou outras plataformas, são artistas muito variados. A gente vê como a arte é infinita. Não tem como você falar: eu cheguei no ponto que eu queria. Quanto mais você se aprofunda nela, mais você chega à conclusão e pensa para si: nossa como eu sou ignorante! Eu não sei nada ainda.
Eu era extremamente marginal, talvez por ter vivido vinte anos na Zona Sul de São José dos Campos. Eu fiquei durante um bom tempo com esse rótulo de artista visual, periférico que depois ganhou a uma força absurda, mas o meu rolê inicial já era com a poesia concreta, porque e sou um cara da geometria, da matemática, de se aprofundar, criar formas, Que que foi a poesia concreta que chegou num ponto que os caras se aprofundaram tanto esqueceram que do outro lado tinha também o público. Aí vem o Neoconcretismo e abre de novo essa possibilidade então eu sempre me considerei nessa vertente, mas eu vou abandonando essas ideias… São os rótulos que vão surgindo. Eu acho bacana ter uma característica e as pessoas conseguem ver as características. Mas isso pode ser também uma coisa que aprisiona. você começa a trabalhar só com aquela ideia sendo que há trilhões de outras possibilidades
Neoconcretismo, a pegada, o rolê, a mística do Fernando Selmer, é um movimento artístico que surgiu no Brasil na década de 1950. O ápice do ocorreu em 1959, quando Ferreira Gullar publicou o Manifesto Neoconcreto. As obras neoconcretas apresentam caráter interativo e abstrato e se opõem ao racionalismo excessivo do Concretismo. Suas características principais, as mesmas encontras na obra do Selmer, são:
· Valorização da subjetividade e da intuição nos processos artísticos
· Incentivo a uma arte mais libertadora e a uma maior liberdade de experimentação e criação
· Incentivo à interação do público com as obras
· Uso de formas geométricas, cores e abstracionismo
· Apoio à transcendência da arte
· Oposição ao concretismo, materialismo, cientificismo e positivismo
· Viés humanista e existencialista
· Uso da arte como uma forma de reflexão e crítica
· Inclusão da temporalidade nos trabalhos
· Questionamento das estruturas, aparelhos e formas de poder
Lascas de iceberg em rede na varanda vem a calhar. Em meio ao caos, emergência climática, guerras e o fascismo fascinando às massas, resistir, permanecer são dons. Não é fácil! Selmer segue perene, genial e criativo. Um poeta atendo ao novo e ao que o cerca – afinal somos produto do meio. Ele segue ultrapassando limites, inspirando e irrotulável.
A Feira Miolo(s):
(1) A Feira Miolo(s) é um encontro de cultura gráfica promovido desde 2014 pela Biblioteca Mário de Andrade e a editora Lote 42. Neste 2024, a 11ª edição, ocorreu entre 2 e 3 de novembro, Biblioteca Mário de Andrade, e envolveu mais de 300 artistas gráficos e editores independentes de 14 estados brasileiros e da América Latina. Entre eles, Fernando Selmer.
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“Por mais que nos sintamos tentados a representação da totalidade do que quer que seja, essa ação jamais será total, posto que ao interpretante cabe suas inferências”
George Furlan
Jornalista: 0083121/SP
@iukeri
verbophagia.blogspot.com.br
ciapataquada.wordpress.com
Para abrir o vídeo do Tik Tok é só clicar no coração de CURTIR:
@portalentrementes Fernando Selmer, escritor e artista visual fala sobre seu trabalho. Imagem: Elizabeth de Souza #arte #artedevanguardia #literatura #poesia #artevisual #sjcampos
@portalentrementes Fernando Selmer fala sobre a sua trilogia de livros: 1- “39K – Todo exemplar é uma farsa” 2- “lascas de iceberg em rede na varanda” 3- sendo construído ainda. Imagem: Elizabeth de Souza #arte #artedevanguardia #literatura #poesia #artevisual #sjcampos #fernandoselmer
@portalentrementes Fernando Selmer fala sobre “lascas de iceberg em rede na varanda”, o segundo livro de sua trilogia. Imagem: Elizabeth de Souza #arte #artedevanguardia #literatura #poesia #artevisual #fernandoselmer #sjcampos #foryoupagе
Excelente matéria!
É sempre um grande prazer conversar com o Selmer sobre o seu trabalho. Um trabalho diferente de tudo aquilo a que estamos acostumados…considero de vanguarda, toda arte que o Selmer produz, se é que ainda podemos usar esse termo.
A conversa com ele é sempre tranquila e o conteúdo autêntico e relevante.
Nesse rolê, como ele mesmo diz, só boas energias.
Por enquanto, só coloquei no Tik Tok, mas vai estar em breve, em outras plataformas.
Parabéns ao George por esse texto tão primoroso, agradeço a sua maravilhosa parceria.
RIQUEZA! O ARTISTA E SUA OBRA ROMPENDO AS AMARRAS.PARABENS FERNANDO SELMER PELA AUTENTICIDADE! ENTREMENTES TB DE PARABENS POR APOIAR A ARTE AUTÊNTICA!ESPETACULAR
Um primor de matéria. O cuidado, a pesquisa, a confluência entre tantos outras atributos. É admirável a resistência desses meus amigos amados que há tantos anos fazem parte da cultura local, fomentam o trabalho artístico de tanta gente talentosa com senso de partilha e contribuição extremamente generosa..A minha alegria com essa matéria transborda porque o que eu mais acredito é que a maior poesia que a gente pode escrever são esses momentos de troca, aprendizado e gentilezas…Gratidão meus amigos amados: Beth e George…
Amei Selmer!!! Parabens e sucesso…