Tenha gosto pelo esforço

Tenha gosto pelo esforço

Por Raul Tartarotti

Essa noite será novamente especial, não só porque muitos estarão juntos, mas também porque sentiremos dentro de nós a presença saudosa dos que não virão mais pra jantar. Na infância passamos as festividades natalinas numa fantasia construída pelos nossos pais e avós, e cada noite era um evento novo e extraordinário, onde reuníamos todos parentes num local enfeitado e festivo.
As pessoas que não compareciam por um motivo ou outro recebiam uma ligação telefônica com as homenagens de boas festas, pra todos que estavam lá do outro lado, e depois deveriam aparecer em breve pra visitar, pois a saudade ficava eterna. Esse era o momento de saber sobre o outro afastado e distante. As lembranças dos que se foram se acendiam, e os momentos vividos juntos ficaram guardados na memória dos descendentes, seus amigos e outros parentes. E toda essa gente nos carrega um pouco em uma gaveta de suas memórias.
Nessa noite posso me sentar à sala apenas à espera das visitas, mas seria mais nobre de minha parte ir ao encontro de quem não tem essa condição, seja por um motivo ou outro, que está na expectativa de um contato e de palavras atenciosas que aliviem suas dores, de um passado talvez sofrido e ainda esperançoso por momentos fraternos, mas que nunca lhe bateram a porta. Os tempos sempre serão outros, e nossas reservas para um amanhã podem levar mais que um dia, ou por vezes nunca acontecer, pois não temos a data da viagem de volta ao criador. Lamento lhe informar mas seu presente é o único momento certo pra você ser íntegro e disponível, faça suas vezes de criatura abençoada e pronta pra servir, pode ser alguém a seu lado, ou bem longe, mas doe o que construiu até então, quem sabe o retorno pode lhe trazer uma lágrima de orgulho, vai que o criador goste do que fez e te conceda mais um tempo por aqui. Se você tem brilho, compartilhe, como alguns bons franceses gostam de pensar j’aime l’effort (tenha gosto pelo esforço). Como o fez Trent Okerson, o homem do tempo nos EUA, especialista em rastrear tempestades. Seus segredos de profissão ajudaram a salvar centenas de pessoas do tornado no estado do Kentucky, acertando o minuto em que ele tocaria as cidades.
Alguns dos meus segredos, descobri que se apagaram quando visitei vovó agora a pouco e ela pensou que eu fosse outra pessoa. Muitos deles dou graças aos deuses que minha única testemunha os esqueceu, porém, tudo que vivemos juntos se perdeu na sombra do vento, e sem chance de virar texto.
Mas continuo achando que sempre há tempo, amanhã ou talvez mês que vem posso encontrá-lo pra realizar aquele momento reservado, ou quem sabe já esquecido porque não coloquei em pratica e pode ser perder, e quase se transformar em livro a espera da próxima página.
As famílias sentem emoções incríveis quando estão juntas, curtem cada uma a sua doce emoção. Lembram de momentos passados, fazem planos para o futuro, riem atoa do agora, e nunca deixam de sonhar, porque ao final, imaginem o tamanho do abraço de saudade que todos gostariam de receber.

Sobre Raul Tartarotti 94 Artigos
Natural de Gramado, Raul teve formação básica em Eng. Biomédica. É cronista em diversas publicações no Brasil e exterior, impressa e eletrônica. Estudou literatura Russa, filosofia clássica e contemporânea. Suas crônicas são de cunho filosófico e social, com objetivo de trazer reflexão ao leitor sobre temas importantes de nosso cotidiano.

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