Tik Tok – Tico e Teco

 

Tik Tok – Tico e Teco

 

Quando criança, lia muito os gibizinhos do Walt Disney. Na minha infância não tinha acesso a obra de Maurício de Souza, senão teria migrado de leitura. Mas aprendi muito nesses gibis do WD com os mais variados personagens como o Pato Donald, Peninha, Margarida, Mickey, Minie, Tio Patinhas, Maga Patalógica, Mancha Negra, Irmãos Metralha, Huguinho Zezinho e Luizinho e tantos outros personagens que não cabem escrever aqui, todos eles.
E o Tico e Teco? Eram dois esquilos que viviam sempre à procura de nozes e nessa busca incessante passavam por muitas aventuras. Dizem os adeptos das “teorias da conspiração”, que Walt Disney pertencia a algo sombrio que usava uma linguagem subliminar em seus desenhos animados para fazer uma lavagem cerebral nos que consumiam seus produtos.


Eu desfrutei dos gibis que me ensinaram muita coisa, desde ortografia, significado das palavras como também o que estava além disso, as metáforas de tudo que tem no mundo. No entanto, ainda demorei para associar que as nozes que tem o formato de um cérebro, o alimento dos dois esquilos, serviam como um alimento importante para nossos neurônios e o nosso cérebro. Essa metáfora de quando há uma conexão entre dois neurônios formando sinapses é muito simples e brilhante quando chamamos esses dois neurônios, de Tico e Teco. Realmente Walt Disney foi brilhante e carregava essa sina de criar figuras de linguagem com maestria, desvendando os símbolos e a simbologia da imagem e linguagem. Genial!

E agora estamos na geração Z, tão bonita e às vezes tão ordinária, mas a nossa geração também foi assim, bonita e ordinária, dentro da mesma trilha – porque assim caminha a humanidade. Caminhamos para lugar nenhum, andando em círculos viciosos ou viscosos como citava num antigo poema que escrevi*.
E a geração Z não ouviu falar dos dois esquilos, mas com certeza ouviu o termo Tico e Teco, sem saber das origens, mas sabe o significado. O símbolo, a figura, a linguagem, misturam-semi-ótica-mente no cérebro na mais alta velocidade, nessa rede neural… e social.

E a geração Z, mais do que ninguém, conhece o Tik Tok, essa rede social que está tomando conta do mundo de uma forma viciante, deixando para trás as velhas redes sociais que agora são frequentadas pelas gerações mais velhas. A geração Z quer velocidade, não consegue se concentrar mais que cinco minutos em alguma coisa, como as crianças bem pequenas da nossa geração. Mas é uma geração brilhante porque nasceu dentro de um smartphone e até desvenda os mistérios da IA. Os dois esquilos ficaram lá atrás, nas folhas amareladas de um gibi que quase ninguém mais lê e que foi trocado pelo chatgpt.

E o Tik Tok sendo disputado pelas grandes potências, uma briga de gigantes que começa a se avolumar. A dita maior “democracia”, aquela que adora implantar “democracia” para o mundo inteiro, está perdendo espaço. Tentou trazer a China para si e até ajudou essa gigante asiática a se dar bem, no intuito de torná-la uma democracia a seus moldes, mas foi ultrapassada. Na China, não se usam as redes sociais, mas criaram o Tik Tok para espalhar pelo mundo. A “maior Democracia”, resolveu banir o tik tok dos seus domínios, mas não tem como parar a tecnologia asiática, não tem como parar a história e nem o pêndulo. Ora em cima, ora embaixo; ora para a direita, ora para a esquerda e o mundo gira, e nós dentro dele, também giramos numa dança frenética.
E não venham me dizer que o Tik Tok espiona as pessoas, porque seria irônico e sem sentido – Todas as redes sociais espionam e todas tem os nossos dados e todas nos usam como instrumentos, então pode parar…e mais uma vez estamos dentro de uma quente guerra fria.
Sinto saudade do Tico e Teco e onde estão minhas nozes?

Elizabeth de Souza
180324

 

Círculo Viscoso

Ando rodando
rodopiando
por entre essa roda de dores
coletivas
cultivadas
pela elite da amargura
pelo agouro do amor.

Entre aglomerados
aglutinados
pelo desatinado destino
de estar destinado
a desatar os nós
dos desastres astronômicos
astrais/emocionais/carnais/mentais
E dos ais
sem eco e sem narcisos
prá cerzir um CÉO
com um longo ditongo aberto.

Sem czar prá gente curvar
nem virar bonzo zonzo prá entrar
nem zombar dos abéis pra sair
nem cair na tentação
de tentar uma ação
contra a sina
de ser divina
a comédia humana
insana profana
que gera todas as sant’anas
mãe das marias
mãe de…

Elizabeth de Souza
anos 80

Sobre Elizabeth Souza 407 Artigos
Elizabeth de Souza é coordenadora e editora do Portal Entrementes....

22 Comentários

    • Obrigada, querida amiga Teresa!
      Sim, uma guerra fria em meio as altas temperaturas do planeta.
      Gostou do meu poema tão antigo? Que legal!

  1. Excelente reflexão. Para além do bem e do mal, do certo e errado, do saudosismo as tecnologias, do conhecimento e da banalidade, existem muitos personagens que habitam nosso imaginário, mas existem muitos personagens reais que subliminarmente conduz a destruição da espécie. A teoria da conspiração precisa ser alimentada pq o medo é hoje a ferramenta mais atrofiante de condução da manada.. Parabéns Beth .

    • Obrigada Selmer!
      Como sempre você está antenado nos rolês atuais.
      Todo o conhecimento, de qualquer natureza, sempre estará presente nos mais diversos cenários, a gente gostando ou não.

  2. Parabéns Bete! Nesse conto revivi um pouco da minha história, da minha infância. Foi assim que aconteceu comigo também. Obrigado

    • Ah, Lah, muito obrigada!
      Você também gostava dos gibis…conheço gente que aprendeu a ler nos gibis kkkkkkkk

    • Obrigada, querida amiga Luzia!
      Quando criança, meu pai contava as histórias do Pedro Malazartes. Fascinante!

  3. Que saudade… conforme devorava o texto voltava na minha infância, na sala de aula que terminava a atividade pra ir na biblioteca; que prazer tinha em viajar nas histórias, gibis Tio Patinhas…kkk onde foram parar as moedas as cédulas (minha neta de 1 ano saberá o que é isso?), e livros. Qdo lecionava que prazer a hora da história tentava passar para as crianças o momento mágico da descoberta através dos livros…. Tempo bom…

  4. Oi Ana, os gibis eram fascinantes para nós, o máximo de prazer de ler e ver as imagens, tudo tão sincronizado.
    Lembro de você, minha vizinha de sala, contando as histórias e foi um momento de êxtase que vivemos com os alunos…
    Mas você, vai mostrar tudo isso a sua neta, para não se perder no esquecimento, pode crer.
    Um grande abraço, minha querida amiga Ana…

  5. Brilhante, brilhante, brilhante! Vejo um pouco do filme da minha vida. Vivi intensamente muito do que você escreveu.

    Gilberto

    • Olha que legal, Gilberto!
      Então vivemos só coisas boas e intensas e continuamos a viver.
      Querido amigo, agradeço muito seu comentário.
      Abraço!

  6. Brilhante, brilhante, brilhante. Tico e Teco. Me fez recordar um período da minha vida, sem tirar nem por…Era feliz e nem sabia.
    Abraço fraterno.

  7. Excelente Beth!Eu particularmente, adoro “teorias da conspiração”! E quase toda a obra do Walt Disney é cercada por essas teorias! Independente de acreditar ou não, acho fascinante!
    Concordo com você, tanto a geração Z quanto a nossa geração são belas e ordinárias ao mesmo tempo…mesmo assim, sou daquelas pessoas que acreditam que uma geração sempre vem melhor do que a anterior.
    Parabéns pelo texto, pela reflexão e pelo poema!

    • Obrigada, querida amiga Marlene, pelo seu comentário.
      O cenário muda, mas nós humanos, continuamos os mesmos “como nossos pais”, como já dizia o poeta. Todas as gerações humanas são as mesmas, bonitas e ordinárias.
      As teorias da conspiração muitas vezes nos inspiram a criar.
      Grande abraço, amiga!

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