Tomamos a cicuta do silêncio todos os dias

Tomamos a cicuta do silêncio todos os dias

Por Joka Faria em noite de coração apertado.

Tem momentos que uso o facebook só para ler a poesia saída do forno, a que ainda não virou páginas de livros e nem sabemos se será livro, mas ela conforta e nos anima.
Hoje estou a ler Teresa Bendini. Estamos além de Gutenberg e sua prensa, onde a emoção e a razão acontecem, enquanto a ampulheta do tempo se esvai. E ainda não somos saudade. Nem sei se conseguirei organizar meus escritos em livros. Realmente ainda é necessário organizar livros? Sou tão desligado, gosto de ler e escrever. Mas a capa de um livro de Carpinejar é puro encanto, aí a vontade pinta. Mas a questão dos custos não deixa, sou mero operário da educação. Cadê aqueles chamados intelectuais da educação? Nossos salários estão sucateados, não sabemos organizar movimentos, eleger vereadores e prefeitos. Tomamos a cicuta do silêncio todos os dias. Teresa escreveu sobre os motoboys, eu havia pensado neste tema. O trabalho deles é tão opressivo em que são empreendedores? O que é o trabalho nestes dias capitalistas? Trabalhar em casa. Somos ativistas e vivemos a trabalhar sem nenhum retorno financeiro. Instituições públicas de cultura são usadas para desviar verbas, dinheiro de todos nós. Também na educação nossos gritos não ecoam, nem são ouvidos. E a morte chega para alguns de nós. Ontem atravessamos a cidade para ver o lançamento de um disco. E a cidade é enorme. Imagine São Paulo, Rio de Janeiro. Um lugar que poderia ser um ponto de cultura, subversão, transformação, mas só se aluga salão, Como somos uma sociedade despolitizada e analfabeta.
Hoje um amigo me falou da rebeldia de Paulo Freire e porque é atacado pela extrema pobreza intelectual da direita. Ele sabia fazer refletir a opressão do estado e do capital. Onde está Marx? Em nossas reações sem nenhum êxito, eleições e mais eleições. E o deus mercado dando as cartas. É Teresa, precisamos fazer ajuntamentos, debater e descobrir maneiras eficazes de reagir. Que seja nas redes sociais, nas ruas, nos locais de trabalho. A luta é árdua e a literatura nos conforta. Saboreie Beth Brait por mais de meia hora lendo seus poemas para a Casa das Rosas no youtube. Vamos escrever poemas, crônicas, romances e roteiros. Aprender as artimanhas das artes conceituais, fazer cinema e juntar as pessoas numa grande revolução. Só o amor à humanidade nos salva, o fim chegará para nossos corpos, mas estaremos em algum lugar deste UNIVERSO.


João Carlos Faria
Maio de 2022, Outono

Coletivo Ação Libertária
literatura, filosofia e arte

1 Comentário

  1. Que bela reflexão, amigo Joka. Orgulhosa por ter sido citada em seu texto. Nem sei se mereço. Mas até quando vamos brincar com a liberdade de ser cárcere? Um dia ela se cansa de bater na porta nossa da coragem, na porta da rebeldia e deixa de nos dar a chave. Conheci o Carpinejar, na Casa das Rosas, ele é pura poesia, quando se mexe, um verso acontece.

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