TOPÁZIO
Naquele dia Lígea tinha chegado atrasada ao encontro. Oceano já a esperava sentado no muro baixo à entrada do metro, com um boné rasgado e virado para trás. Saltou agilmente do murete e deu-lhe um beijo discreto, quase inventado. Lígea largou-o rapidamente, a sua timidez obsessiva impedia-a de qualquer contacto físico mais público, ou vice-versa. Tal gesto seria quase trivial, não fosse o facto de Lígea e Oceano se estarem encontrar pela primeira vez. Na verdade, Lígea gostava de Kwanza, o sobrinho de Oceano, e esperava vê-lo ali, àquela hora, tal como tinham combinado por mensagem.
Kwanza, no entanto, corria já veloz e fluido para outra foz; Oceano, mais sossegado e experiente, sabia-o, e não queria deixar Lígea à espera de uma ausência anunciada. Oceano gostava de Lígea que, surpresa, o esbofeteou.
O homem recompôs-se dessa agressão quase esperada que lhe pareceu até um gesto afável. Sorriu e murmurou apenas: – Feliz aniversário, Lígea.
A mulher voltou-se com violência para o homem que já tinha deixado para trás.
– Mas quem diabo é o senhor, afinal? Eu estou à espera de outra pessoa.
Oceano apresentou-se e esclareceu o mistério, ao mesmo tempo que engendrava uma justificação plausível. Que Kwanza “estava em viagem, uma emergência de trabalho”, mas que lhe tinha pedido que ali fosse, para se desculpar. E desembrulhou então um magnífico topázio de forma indefinível dentro de uma pequena caixa forrada a veludo preto. – Toma, é para ti – acrescentou com uma nota de rudeza. O homem tinha uma pronúncia invulgar que Lígea não reconheceu. No fundo da caixa, uma pequena chave e um número de 9 algarismos.
No dia 31 do último mês do ano, um telefone vibrou com a chamada de Lígea.
– Abre, estou à tua porta – disse-lhe, tremendo. E entregou-lhe o seu beijo tímido.
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