Um e outro
(Alter ego?)
Sinto sua presença
nas entrelinhas dos meus versos
versando palavras azuis
em meus ouvidos amarelos
a doçura que se expande
leva-me a escolhas sem alternativas.
Caminha devagar entre pontos e vírgulas
e para reflexivo em minhas interrogações
não exclama, não reclama e nem responde
só para aumentar
o desejo latente no âmago das minhas entranhas.
Nega-me o seu diafragma e a respiração entre parênteses
sons de outras eras, nos re-côncavos dos seus milênios
marcando sua vida em minha trajetória convexa
tornando-se uma fonte inesgotável de inspiração.
Enlacemos as mãos
só para sentir o tato e o contato
nada além, pra não cair no tédio do cotidiano
nem a cansaços inúteis…
Mantemos por uma eternidade
o instante em suspense
suspenso num ar carregado de emoções.
De emoções em emoções vamos pulsando
um pulando e saltitando entretextos
outro, num pulso entrecortando poesia
numa icônica narrativa que se repete…
Nossas naturezas opostas e duais
encontram-se nos versos espalhados pela galáxia
em espiral, tornando-se retorcida
em bilhões de corpos celestes iluminados.
Juntos, desbravamos intensas florestas
um galgando trilhas sonoras
em riachos que cantam canções
refrescando de prazer seus pés descalços e atrevidos…
Outro, em desejos calculados
colhendo frias folhagens que cortam como faca
cortando a si numa famigerada luta interna.
A oposição é só uma posição de antônimos
os sinônimos são distorcidos
nessa junção longínqua e descabida…
O supremo ápice do prazer
é a palavra que escorre pelas bordas
trans-bordando letras iniciais e finais
que sustentam um universo úmido, chuvoso e ensolarado
criando arco-íris brilhantes nos céus da terra.
A distância entre um e outro
São pequenos nós na garganta do futuro
medidos em verbos luz
estendendo-se num equivocado três pontos
que a qualquer instante pode se quebrar
como se quebra uma louça nunca usada
e ponto final.
Somos como a lebre e o jabuti
vivendo em seus mundos equidistantes
separados pela velocidade de uma leitura
cronometrada no relógio soturno de saturno…
E no equilíbrio da balança
a natureza brota em flor e lírios do campo
para fazer da realidade, um sonho permanente.
A existência de um
é o suplemento da existência do outro
numa corrida desigual
um desliza rápido pelas trilhas esverdeadas
outro caminha devagar pela terra quente e úmida
Vivemos nesse continuum espaço tempo…
O ponto de encontro
é o pensamento comum de um e do outro
onde o verso e o diverso montam
um soneto perfeito.
Qualquer gesto e movimento
qualquer deslize e som
é motivo
para um se derreter em palavras inventadas
e contar uma saga para outro ouvir
até acabar a temporada…
O outro lê, escuta e permanece calado
sem perceber o tesouro escondido
em meio aos escombros das palavras sopradas.
Elizabeth de Souza
27-12-2020
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