Um réveillon atípico
Réveillon é uma palavra detestada pelos antigos professores de Língua Portuguesa, por tratar-se de “galicismo”, um vício de linguagem. Tem sua origem no verbo francês “reveiller”, cujo significado é “acordar” ou “reanimar”. Assim, réveillon é o despertar de um novo ano. Tudo a ver.
Já ultrapassei a marca dos 80, mas confesso, nunca vi num réveillon o clima assim tão tenso como agora. Basta uma olhada nos telejornais para notar uma atmosfera de apreensão em torno da posse do presidente recém-eleito. Um aparato de segurança sem precedentes foi mobilizado para evitar qualquer surpresa de consequências imprevisíveis. Algo assim parecido com aqueles filmes de suspense dos tempos dourados de Hollywood. A ficção tornando-se realidade.
Não é o final de ano assim que esperávamos. Nossa expectativa era de uma passagem de ano nos moldes tradicionais. Algo assim que alguns entendem não passar de uma “breguice”, com ceia, fogos de artifício, a elegância dos trajes brancos. Aliás, Machado de Assis, escrevendo a esse respeito, afirma com sua fina ironia que “há pessoas elegantes e pessoas enfeitadas”. O grande público já se habituou também com a apresentação de Roberto Carlos na Globo e a retrospectiva dos acontecimentos do ano em quase todos os canais de televisão. Mais uma vez recorremos à ironia contida nas palavras do ”bruxo do Cosme Velho” : “O povo precisa fazer anualmente um exame de consciência; é o que os jornais nos oferecem a título de retrospectiva”.
Bem, para muita gente isso tudo pode ser muito brega, mas é melhor acordar da ressaca no dia seguinte sabendo que o país entrou em paz no novo ano, sem sobressaltos, sem ameaças ao regime democrático, a vida fluindo e a esperança seguindo adiante. Tomara seja assim!
Aproveito para agradecer aos leitores, por honrarem-me com a leitura de minhas modestas linhas e à minha amiga Elizabeth de Souza pelo espaço que me concede generosamente em Entrementes. Feliz Ano Novo!
Por Gilberto Silos
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