Uma Desventura em Sampa

Uma Desventura em Sampa

Por Joka Faria

Madrugada em São Paulo, ela passeava pela cidade depois de uma apresentação. Mas não era ela; era ele, numa experimentação Drag Queen masculina, uma interação ousada neste universo. Uma pessoa over, que deixa o feminino presente sem perder a masculinidade. Seu show havia acabado, e eles fizeram um cortejo pela madrugada paulistana. Ao chegarem ao Teatro Municipal, lá estava Guimarães Rosa. Jorge Mautner tocava seu violino nas escadarias do teatro, tentando entender. Enquanto Guimarães pensava em seu conto sobre dias e dias sem internet, ela cantava “Imagine”. Gerald Thomas a acompanhava em silêncio. A noite estava se findando, e ela entraria em seu pequeno quarto de hotel solitário para se desfazer do personagem e voltar à vida pacata numa cidade do interior, onde a poluição do ar queimava suas narinas e um cheiro podre de conservadorismo pairava no ar e nas atitudes. Harley e Edu Gair estavam em outro quarto, enquanto Edu Planchêz e Catarina Crystal compunham uma canção. Depois, retornaram ao Rio de Janeiro, mas antes fariam uma passagem por um bairro chamado Novo Horizonte, onde veriam o nascer da lua cheia. Imagine cantar na madrugada gelada e poluída de uma Vila Industrial, uma drag queen mantendo sua originalidade e o masculino. E assim…

João Carlos Faria
12 de Agosto, inverno de 2024

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