Unidade e Polaridade
Em quase todas as tradições esotéricas encontramos referências, explícitas ou não, sobre a Lei da Polaridade. Os antigos sábios a percebiam, pela observação à natureza ou pela intuição.
Tudo aquilo que o homem observa ou imagina revela-se em dois polos. Ele não concebe uma unidade além da polaridade. Significa que simbolicamente não podemos imaginar o “um” enquanto não existir o “dois”. Um pressupõe o outro.
A consciência humana, focada neste mundo material e dialético, vive tendo a polaridade como seu grande referencial. Em outras palavras, segue aprisionada à influência do “dois”. Assim, a realidade sempre se nos apresenta como “bem” e “mal”, “masculino” e “feminino”, “luz” e “sombra”, “ácido” e “alcalino”, “inferior” e “superior”, e por aí vai. Cada um depende do seu oposto para existir.
Mas, será verdadeira essa que nós chamamos de “realidade”? Ela sempre nos obriga a ver a vida sempre em pares de opostos, e nos mantém na convicção de que eles se excluem e formam uma dicotomia. Não seria uma visão parcial e limitada da realidade? Visão incapaz de admitir a complementaridade dos opostos, ou de que eles, juntos, podem formar uma unidade perfeita?
Talvez poucos, dentre os seres humanos, consigam desenvolver uma visão de mundo capaz de transcender essa polaridade. Acima desse aparente antagonismo existe um poder, energia ou auto-organização inteligente, estabelecendo uma harmonia onde tudo cabe e ocupa o seu lugar. Trata-se de um processo de ajuste e complementaridade, do qual distinguimos apenas uma pequena parte.
Rotulamos algo de “mal” porque sua referência comparativa é o seu oposto, o ”bem”, sem aceitar o argumento de que não passam de visões humanas da vida, inseridas no relativismo e transitoriedade do mundo físico. O que é “bom” numa cultura pode não o ser em outra. Esses conceitos podem mudar conforme o lugar, a época e o contexto.
A questão do bem e do mal requer um entendimento mais profundo. Goethe, em sua obra “Fausto”, alerta o leitor sobre a natureza luciférica de Mefistófeles, quando escreve: “a força que mesmo o mal planejando, para o bem está trabalhando”.
Conhecemos, do Novo Testamento, como a figura luciférica de Judas Iscariotes foi um instrumento para que a missão de Cristo fosse cumprida.
Essa questão da polaridade nos oferece várias lições. O mundo em que vivemos não é um paraíso edênico. É um campo de duro aprendizado. É uma temeridade sair por aí julgando as pessoas, rotulando-as ao sabor de dogmas, costumes e subjetivismos. Pode não corresponder à realidade.
Retornando ao tema da polaridade: exemplifiquemos com o processo da respiração. Ele pode servir de referência para estudar fenômenos físicos e metafísicos que regem o universo. Expirar e inspirar são movimentos contrários, mas complementares e interdependentes. Ao ato de inspirar segue com absoluta certeza o seu oposto, expirar, e vice-versa. Essa alternância constante produz um processo, uma unidade dinâmica da qual dependem nossas vidas. Qual é mais importante, a respiração ou a inspiração?
Por Gilberto Silos
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