Vai e faça!

 

Há exatos 25 anos, no dia 09 de março de 1998, lançávamos no Cinemax do shopping Colinas, o filme “O DIA EM QUE OLHAMOS PARA O CÉU”, uma produção que se tornou possível, graça a rebeldia de uma geração de jovens que acreditavam no sonho impossível de fazer cinema num cenário de luz natural esplendorosa, onde a liderança cultural da cidade nos dizia: “vai e faça”. Fizemos, corria a última metade da última década do século XX, 1996, filme finalizado em 1997 e exibido em 1998.

O roteirista e diretor; Zoran Djordjevic, iugoslavo, formado pela FAMU, Escola de Cinema e TV da antiga Tchecoslováquia e uma das principais escolas de cinema da Europa, berço de muitos dos mais aclamados cineastas do mundo. O Núcleo Ethos que já tinha experimentado gravar em VHS, S-VHS, BetaCam e filmar em Super 8mm, estava iniciando suas primeiras filmagens em 16 e 35mm, não fora suficiente para acalmar as expectativas do diretor, devido ao fato da produção inicial do filme, ter sido interrompida com uma produtora de São Paulo e ela ter trazido de Belgrado, o diretor de fotografia, Vladan Obradovic, parceiro do Zoran, para fotografar o filme.

 

 

A situação era aquele semelhante a “se ficar o bicho pega, se correr o bicho come”, então encaramos o desafio. Com o término das filmagens, Zoran é obrigado a voltar as pressas a Belgrado devido a problemas familiares, no mesmo espaço de tempo, explode a guerra promovida pela OTAN e que deu fim a Iugoslávia, mas antes do fim propriamente dito, Zoran consegue em parceria com seus amigos da Atlantic International Production e Ilke Produktion, para finalizar o filme.

Filme terminado na Iugoslávia, em São José dos Campos o prazo final para a prestação de contas estava nos seus últimos dias e só faltava entregar a cópia do filme. Meire Pedroso a proponente do projeto, segurou toda a onda com os entraves burocráticos do processo, incapaz de compreender situação análoga como esta. Enquanto isso, em Belgrado a OTAN marca dia e hora para bombardear a capital. Os negativos e a cópia do filme foram depositados no novo prédio da cinemateca, que comportava também a TV Estatal. Conforme anunciado, um dos alvos do bombardeio foi o prédio da TV Estatal e da Cinemateca. Duas bombas foram lançadas. Um explode sobre o antigo prédio, ao lado no novo. A segunda cai, não explode e impede a passagem até a chegada ao local onde estava a cópia do filme. Um ano depois a bomba foi desarmada.

 

 

Vinte e cinco anos depois, a história por trás deste filme continua a surpreender, “estórias” dão conta que a cópia em 35mm depositada na Fundação Cultural da cidade foi incinerada, outras dizem que “vinagrou”, termo que implica compreender que a película composta de acetado de celulose, degradou, perdeu-se devido ao mau uso de conservação.

Durante todo o processo das oficinas que desaguaram na formação do Núcleo de Estudo, Produção e Difusão de Cinema & Vídeo ETHOS de São José dos Campos, a máxima de que, no procedimento de produção de terminados trabalhos, o processo de criação, produção e difusão de um filme, é quase sempre mais importante do que o próprio filme em si.

 

 

 

Sobre Diogo Gomes dos Santos 11 Artigos
Diogo Gomes dos Santos Diogo Gomes dos Santos, Cineasta, Cineclubista, Mestre em Estética e História da Arte, possui pós-graduação em Estudos Literário, graduado e licenciado em Historia, roteirista, diretor, produtor com vários prêmios nacionais e internacionais. Diretor do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros/Delegado junto a Federação Internacional de Cineclubes.

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