Viver é muito perigoso

https://brasil.elpais.com/ Foto de satélite do Rio Paraopeba

 

VIVER  É  MUITO  PERIGOSO

“Viver é muito perigoso”. Assim se expressa Riobaldo, o jagunço, figura central de Grande Sertão – Veredas. É o romancista Guimarães Rosa falando pela boca de seu personagem. Mas, viver não era tão perigoso nos grotões das Gerais como no Brasil atual. O mar não está mesmo pra peixe nestes tempos  de TV digital, de condomínios fechados, e de redes sociais elegendo candidatos.

O perigo ronda, não se sabe onde. Mas, alguns sabem…É que as informações mais relevantes nem sempre chegam aqui na ponta, porque comprometeriam muita gente que está lá em cima. Nós, cá  na planície, devemos nos contentar com os resultados do futebol, com as picuinhas políticas e o desenrolar das novelas.  E viver sonhando com um futuro melhor, até porque  sonhos estão isentos de carga tributária .

Muita coisa acontece nos labirintos escuros do Poder e nós continuamos sem saber como são feitas as salsichas. Mais uma vez Guimarães Rosa fala pela voz rude de Riobaldo: “Eu sei que nada não sei, mas ando muito desconfiado”. A maioria silenciosa pode até desconfiar mas não faz ideia dos perigos que a espreitam. E aí, acontece Brumadinho, como anos atrás aconteceu Mariana, uma tragédia nos mesmos moldes.

Aldous Huxley disse que “só há uma coisa mais dolorosa que aprender com a experiência: é não aprender com a experiência”. Parece  que não aprendemos. Menos mal, que a repetição  de mais uma tragédia trouxe a público informações que a grande maioria da população desconhecia.

O Brasil conta hoje com mais de 24 mil barragens que servem a diversas finalidades. Delas, pouco mais de mil com alto risco de rompimento. Das 790 barragens de rejeição, 204 têm alto potencial de risco, sendo 54 de propriedade da Vale.

A Agência Nacional de Mineração dispõe de apenas 35 fiscais capacitados para vistoriar   barragens de rejeição de minério. No trabalho de fiscalização o Governo Federal usa laudos elaborados pelas próprias mineradoras ou por auditores contratados. O licenciamento ambiental é falho, pois não há corpo técnico suficiente para avaliar tudo. Confia-se muito nas informações fornecidas pelos interessados.

O impacto causado pelo acidente de Brumadinho teve repercussão internacional.  Como urgia dar uma satisfação à sociedade, poucos dias depois, alguns técnicos supostamente envolvidos no problema, tiveram sua prisão decretada.  Responsáveis ou não, os bodes expiatórios são os primeiros a ser incriminados. Isso faz lembrar o Capitão Renault, chefe de polícia,  do premiado filme Casablanca que, ao não dispor de pistas para investigar um determinado crime, ordenava a seus comandados que “prendessem os suspeitos de sempre”.

É fácil encontrar suspeitos e mandar alguém para a prisão; mas no caso de Brumadinho  parece que o “buraco é mais embaixo”. Como dizia Riobaldo, no romance de Rosa: “O diabo não existia. O que existia era o homem. O  resto é travessia”.

Quem são os homens ?

Por Gilberto Silos

Sobre Gilberto Silos 225 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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