A instigante poesia de Rimbaud
enfant terrible
Rimbaud, poeta simbolista genial que escreveu verdadeiras obras primas aos 15 anos de idade. Um anarquista por natureza, que vivia entre os delírios poéticos e o peso da realidade, por isso tornou-se um ativista da “Comuna de Paris” e depois tornou-se um traficante de armas e café, porque queria ficar rico. Um rebelde, representante genuíno de uma juventude febril às voltas com um mundo em caos.
A impressionante poesia de Rimbaud era um misto de verbo e o sentido dos sentidos. Um viajante com ideias rebeldes e terríveis. Mas, sua curta vida (37 anos) foi uma longa caminhada de aventuras estranhas que culminou na perda da sua perna e depois numa morte precoce.
Ele tem muitos admiradores que até hoje tentam entender toda a simbologia dos seus poemas, assim como as reviravoltas da sua vida tão intensa e dramática. Influenciador do surrealismo e do movimento marginal. No Brasil foi traduzido pelos poetas Augusto e Haroldo de Campos.
Uma pessoa não tão normal para o seu tempo, hoje seria normal? Hoje ele seria um rockeiro, um metaleiro, um revolucionário, um mochileiro?
Um rebelde, que preferiu se calar diante de um mundo sem utopia!
Suas obras principais:
“Uma Estação no Inferno”, de 1873 e “Iluminações”, de 1886
Mas coloco abaixo o poema “Vogais” objeto de estudos até hoje, tamanha alquimia das palavras. Mas isso é só uma breve introdução, pois Rimbaud merece ser lido e estudado com muito mais detalhes, pois é um ser profundo, estranho e inigualável. Convido a todos a conhecer muito mais esse enfant terrible.
Elizabeth de Souza
VOGAIS
A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul, vogais,
Ainda desvendarei seus mistérios latentes:
A, velado voar de moscas reluzentes
Que zumbem ao redor dos acres lodaçais;
E, nívea candidez de tendas areais,
Lanças de gelo, reis brancos, flores trementes;
I, escarro carmim, rubis a rir nos dentes
Da ira ou da ilusão em tristes bacanais;
U, curvas, vibrações verdes dos oceanos,
Paz de verduras, pas dos pastos, paz dos anos
Que as rugas vão urdindo entre brumas e escolhos;
O, supremo Clamor cheio de estranhos versos,
Silêncio assombrados de anjos e universos;
– Ó! Ômega, o sol violeta dos Seus olhos!
Escrito entre 1870 e 1871, mas publicado em livro apenas em 1884, eis o famoso poema ‘Voyelles’, de Arthur Rimbaud (1854-1891):
Voyelles
A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu: voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes:
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,
Golfes d’ombre; E, candeur des vapeurs et des tentes,
Lances des glaciers, fiers, rois blancs, frissons d’ombelles;
I, pourpres, sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes;
U cycles vibrements divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d’animaux, paix des rides
Que l’alchimie imprime aux grands fronts studieux;
O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silences traversés des Mondes et des Anges:
– O l’Oméga, rayon violet de Ses Yeux!
…
– L’étoile a pleuré rose au coeur de tes oreilles,
L’infini roulé blanc de ta nuque à tes reins
La mer a perlé rousse à tes mammes vermeilles
Et l’Homme saigné noir à ton flanc souverain.
RIMBAUD, Arthur. Poesia completa. Edição bilingue. Trad. Ivo Barroso. Rio de Janeiro, Topbooks, 1995.
Poema Vogais
Traduzido por CAMPOS, 1992, p.25
https://youtu.be/laLoYl5lhNI
Para saber mais:
https://davidarioch.com/2015/10/22/quando-rimbaud-se-tornou-traficante-de-armas/
2019
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