O corpo. Dói o corpo, a carne. Treme o ser. Tremente. Os olhos embaçam, apagam. Nublam o ver dos olhos sério. Só o ver mais ou menos, quase. Pesam os olhos. A vista. Cai a vista e os olhos seguem. Seguem tentando não morrer. Apagar os olhos.
Querer apagar. E não poder apagar. Dormir os olhos. Na cama. O corpo aninhar e ficar. Encolhido. Estar sem estar ali. Indo pro sono, sonhar. E não poder.
Dor aqui e ali. Carne doloridamente batida, sofrida. Moída a carne da gente. Gente de ser guisado. Gente-guisadinho. Triste.
Caminhar com o peso de tudo nas costas. Sofrer no ranger das costas que se quebram, em silêncio.
Corpo vencido. Braços largados, atirados, arrancados do corpo que balança no ônibus. Cabeça que pende. Solta. A janela. A cabeça na janela. Batida seca e muda e triste e dolorida. Um sorriso inventado no rosto. Um rosto inventado. Um sorriso forçado. Um corpo esforçado. Um pescoço enforcado.
Morrer seria mais tranquilo. Cair, por fim cair. Dormir para além do acordar. Mas ele não conseguia. Zumbi.
Descia do ônibus. Passos arrastados. Pesados. O caminho da casa. Nunca perto. Sempre mais longe a cada dia. Barriga vazia. Sempre mais vazia a cada dia.
Queria beber água. Beber toda a água do mundo e estourar. Explodir todo o cansaço que carregava e fluir leve para qualquer canto.
Mas não bebia. Só andava. E chegava em casa. E abria a porta. E entrava. E largava a chave, e a mochila. E sentava na cadeira amarela. E ligava o rádio. Qualquer música. E levantava. E fazia o chimarrão. Quente. Violento. De queimar garganta. Tirava os sapatos. Esticava as pernas. E pensava no outro dia. No outro dia. No outro dia. No outro dia…
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