A arte de fazer rir e chorar

A ARTE DE FAZER RIR E CHORAR

Por Gilberto Silos

Cena 1: Um relógio com seus ponteiros girando.
Cena 2: Numerosa vara de porcos caminhando em direção a algum lugar. Seria um matadouro ?
Cena 3: Multidão de operários caminhando apressadamente para a porta de uma fábrica. Início de expediente.
Uma metáfora ? Parece que sim.
Cena 4: Um operário aciona a chave central. As máquinas começam a funcionar.
Cena 5: O diretor ordena que se acelere a velocidade das máquinas.
Cena 6: Sob a pressão de um capataz, os operários tentam acompanhar a velocidade da esteira. Carlitos é um deles, em cenas tragicômicas.
Assim começa Tempos Modernos, o filme mais emblemático de Charles Chaplin; por sinal, o último filme mudo de sua carreira.
O trabalho é desumano. Os operários se transformam em máquinas. Confundem-se , eles mesmos, com o maquinário. Outra metáfora ? Parece que sim. Carlitos acidentalmente cai dentro de uma delas e se converte em uma parte da engrenagem. Sofre uma crise nervosa e acaba internado em um sanatório.
A Grande Depressão, consequência da crise de 1929, destrói a economia e ceifa milhões de empregos. Cria um drama sem precedentes na sociedade americana.
Carlitos é uma daquelas vítimas. Tudo, na vida, lhe dá errado. Sai do sanatório, desempregado. Envolve-se numa manifestação de rua e a repressão policial acaba por detê-lo. Sai da prisão e continua sem trabalho.
Conhece e se apaixona por uma garota órfã, moradora de rua. Ela é briosa e não se permite passar fome. Em caso extremo até furta alimentos e se mete em encrencas. Juntos , além de várias peripécias, vivem momentos românticos. Em meio àquela penúria ainda sonham com uma vida melhor.
Chaplin se despede de Carlitos na cena final, em que ele e a garota caminham juntos por uma estrada sem fim, rumo ao horizonte. Caminham incertos quanto ao futuro, mas sempre com a esperança adiante, ao som de Smile, música composta pelo próprio autor do filme.
Tempos Modernos, de 1936, é a obra mais atemporal de Chaplin. Dali em diante ele deixa de ser Carlitos. Como cineasta se assume como Chaplin apenas. Já não faz mais comédias de pastelão. Sua linha agora é a da crítica social. Passa a retratar o ser humano como uma vítima de um sistema alienante, onde o capitalismo transforma o trabalhador em fria máquina de produção, algo descartável quando não mais tiver utilidade.
Esse filme é o clássico absoluto de Chaplin. Sua mensagem pode dar margem a várias interpretações. Trata-se apenas de uma crítica social ? De um libelo contra os aspectos cruéis do fordismo e do capitalismo ? Seria uma sutil apologia ao socialismo ? Ou seu caráter era meramente panfletário ?
Pode-se pensar em qualquer dessas alternativas, ou então em todas ao mesmo tempo, mas , sem dúvida, a obra contém uma análise profunda e reflexiva da nossa sociedade.

Sobre Gilberto Silos 191 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

1 Comentário

  1. Texto maravilhoso, Gilberto!
    Chaplin realmente um talento genial, sempre gostei do Carlitos e de toda obra de Chaplin.

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