
A casa em que nasci
Por Joka Faria
Este sábado eu fiz um passeio para Paraisópolis, MG, minha cidade natal, onde fazia um tempo em que eu não ia. Lugar de férias na infância e feriados. Nunca morei nesta cidade, mas tenho grandes memórias. Fomos conhecer a casa em que nasci, na zona rural do município. Uma outra casa foi construída no mesmo local. E, para meu espanto, em plena Serra da Mantiqueira, o lugar fica próximo a uma estrada dos caminhos de romeiros para Aparecida do Norte.
Um lugar belíssimo que lembra as estradas em que caminho no distrito de São Francisco Xavier. Deve ser um desafio morar em lugares assim. Nós, que somos seres urbanos, nos acostumarmos a este isolamento? Cai a noite. E não fica a céu aberto. Sempre fiquei em sítios do meu avô e tios, em outras zonas rurais da cidade. Já fui a este lugar na infância, mas nunca vi a casa em que nasci. São lugares em que precisa de automóvel. A cidade não tem um hospital bom. As pessoas deslocam-se para São José, Taubaté, em emergências. Viver no campo é um desafio para todos. E se fosse em pequenas comunidades?
De forma coletiva, agora entro com as necessárias utopias. Sem imaginação, não existe civilização. Pensar nas saídas e agir. Hoje fizemos um ato em São José dos Campos contra a entrega de parques públicos à iniciativa privada.
Neste passeio, fomos também ao bairro da Lagoa, onde conheci ao longe a fábrica da Pinga Amélia, do irmão de meu avô, Artur Amélia. Seu irmão era Zé Amélia. A fábrica é de seus filhos. Existe há mais de cem anos. A mãe de meu avô era Amélia. Fomos visitar outros sítios de outros parentes — enfim, um tour de um dia, sem visitas às casas, só pelas estradas.
Enfim, desde a infância queria fazer este passeio de minha origem neste mundo físico. Sem memória seríamos sem identidade. Foi um passeio marcante, nesta região da Mantiqueira. O mercado municipal de Paraisópolis foi revitalizado, mas uma caricatura de shoppings. Deveria ser entregue aos antigos comerciantes, para continuar a tradição. Uma descaracterização que acredito que, com o tempo, será refeita. Cabe a nós respeitarmos nossas fundamentais tradições e raízes.
Paraíso é uma belíssima cidade do interior brasileiro, que já teve linha de trem direto para o Rio de Janeiro. Artistas da década de 40 visitavam a cidade, que fez parte do ciclo do café. Quero me reconectar a esta cidade. Ainda há muitos lugares para explorar nesta região: cachoeiras, trilhas e o convívio com nossa gente.
Quem sabe, um dia, uma morada na Serra da Mantiqueira.
João Carlos Faria
Treze de abril de 2024, domingo.
https://www.youtube.com/shorts/8YjOAN_vYoE
https://www.youtube.com/shorts/jAKWWc7-8dU
Que matéria bonita Joka!
O ar bucólico da Serra da Mantiqueira, a mais bela e chorona. Viva a Natureza!
Um belo retorno às origens. Reconectar-se às raízes é uma terapia necessária. Parabéns , Joka. Valeu.
Que bonito! A memória é irmã da poesia…