A mulher ideal

Por Milton T. Mendonça

– Porquê não consigo me apaixonar? É simples, a terráquea não tem as três qualidades que precisam estar presentes para que a química do amor aconteça.
– Quais são essas três qualidades que você está falando? Devem ser algumas dessas coisas absurdas que os homens gostam de imaginar. Alguma perversão: bundão, pernão e peitão. É isso não é?!
– Você é engraçada! Não é nada disso, são qualidades da alma, mas que não fazem parte do caráter feminino.
– Você poderia pelo menos ser mais claro?
– Vou tentar, não sei se vou conseguir fazê-la entender.
– Vamos lá, não seja chato, fala logo. Estou curiosa, quero conhecer seu ideal feminino.
– Tá bom! Ela precisa ser boa…
– Não falei que tinha alguma perversão!
– Calma, me deixe terminar! Não é boa de gostosura, é boa de bondosa. Coração bom, entendeu?
– Sei. Coração bom, que mais?!
-Tem que ser natural, não pode ser manipuladora. Tem que me aceitar como sou. A pressão por mudança tem que ser às claras.
– Hum! Tem que aceitar seus defeitos sem tentar mudá-lo…difícil!
– Já está tentando me manipular. Mulheres! Eu disse que pode tentar me mudar, mas tem que ser às claras. Às claras, entendeu?!
– Sei, que mais?! Eram três, não eram? Qual é a próxima?!
– A última considero a mais complicada, porque além das mulheres não terem essa qualidade ainda acreditam que as tem e brigam toda vez que insinuamos o contrário.
– O que será isso?! Vamos, manda logo, quero ver por onde você anda viajando, deve estar fora da via Láctea!
– Capacidade de amar! É isso, capacidade de amar. Esquecer a grana e amar desinteressadamente. Não dizer que ama, mas amar de verdade. Sabe, aquele amor que confia.
– Rá! Você está confundindo as coisas, quem não consegue amar são os homens!
– Não falei?! As mulheres acham que tem o monopólio do amor, só porque conseguem parir. Como se parir fosse um requisito para amar.
– E não é?!
– Os jornais dizem que não.
– Tá certo, não é. Mas precisa ter sensibilidade, os homens não têm! Vocês só pensam em bunda. Não é verdade?!
– Pensamos em peitos também, mas não é só isso. Eu por exemplo, quero uma mulher que demonstre amor nas atitudes, e isso implica não manipular e ter um coração generoso para aceitar meus defeitos. Que são muitos, não vou negar…
– Pelo menos tem consciência disso, menos mal. Mas deve achar que são defeitinhos, não é verdade? Coisinhas sem importância!
– Ah! Não são assim tão difíceis também, dá para conviver sem drama.
– E os das mulheres não?! Vocês são todos uns machistas abomináveis, se não manipular não anda.
– Hi! Lá vamos nós, a briga é uma ferramenta de manipulação, sabia disso?
– Não enche meu saco, doutor-sabe-tudo, você quer uma boneca, não é?! Compra uma inflável!!
– Calma! Não precisa apelar, estou conversando numa boa.
– Sei, numa boa! Até agora só criticou, e ainda quer que eu fique calma?!
– Mas foi você quem quis saber como é minha mulher ideal.
– Mas isto que você quer não é uma mulher, é um robô…, sei lá, uma escrava. Já aboliram a escravidão sabia disso?!
– Não! Eu só quero uma mulher que não me manipule!
– O que você entende de manipulação?! Vamos diga, o que você entende de manipulação?!
– Ah meu Deus, não tem jeito mesmo.
– O quê não tem jeito?!
– Nada, nada!
– Não adianta fugir do assunto!. O quê não tem jeito?!
– …
– …
– Vem cá queridinha. Vamos fazer o que sabemos fazer melhor. Deita aqui pertinho de mim, não precisava ter se levantado.
– Hum! Tá bom. Mas depois vai ter que dizer o que não tem jeito, hem!

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*