A solidão é uma companheira bem estranha.

 

A solidão é uma companheira bem estranha.

Joka Faria se refletindo no espelho.

O que é a masculinidade em nossos dias? Como se constrói uma pessoa do sexo masculino? Eu não aceito mais as camisas de força desses padrões ocidentais e da sociedade latina. Só representar papéis para ganhar o pão de cada dia é sufocante em nossa sociedade. Não sermos nós mesmos é uma luta diária. Somos seres tanto masculinos quanto femininos. Qualquer coisa além disso é apenas uma mera camisa de força. Minha feminilidade não se choca com as diversas manifestações de masculinidade. Eu preferia ter nascido num corpo feminino. Já não tenho medo de escrever. Gosto da ousadia de Laerte, mas prefiro uma mistura do masculino e feminino, como numa foto que fiz há muito tempo num lançamento de um CD de poetas. Ali sou eu sem mentiras. Também era eu num vestido indiano na Flip de 2009. Hoje um jovem usava um all star rosa. Como a moda está aquém de nossas expectativas? Não quero ser panfletário, identitário, só quero ser eu mesmo, sem as máscaras sociais. A escrita tem o poder de sermos quem bem entendermos. Não temos que nos declarar, sair de armários, amo e desejo as mulheres.

A solidão é uma companheira bem estranha. Esta minha real identidade, sem máscaras, vem desde a infância. Mas as imposições das religiões e crenças ocidentais nos reprimem. Hoje, ao menos em minha escrita, não me engano. Deixo registrado minhas verdades. Afinal, quem somos dentro de nossos espelhos? Como em meu poema “Clarice”, registrado no livro “Retinas”, lançado em 2008. A vida é sempre breve e almas silenciosas cantam desafinadas pela liberdade, até alcançarem uma afinação. Devemos ser quem somos, ao menos para nós mesmos. O restante é mera camisa de força de nossos personagens sociais.

João Carlos Faria, escritor e professor.
10 de Julho de 2023, inverno.

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