Ameaças e Oportunidades

Ameaças e Oportunidades

Hoje despertei muito cedo. Pensativo. Voltado para tudo o que acontece no meio dessa pandemia. Procurei uma palavra capaz de exprimir a sensação provocada nas pessoas. A palavra é insegurança, decorrente de tantas incertezas acumuladas. Um momento inusitado, com questões sem respostas, a gerar muita angústia na alma humana. Até quando teremos de usar máscaras? E as vacinas, quando estarão à nossa disposição? E o ano letivo dos nossos filhos e netos? A economia? Os empregos? As relações humanas e as internacionais? Os traumas psicológicos?
As incertezas chegam a criar até uma sensação de caos. A sociedade na qual vivemos sempre nos levou a crer que as coisas devem manter-se sob o controle do racional. A ciência pode explicar e resolver tudo. Pensar dessa forma sempre trouxe segurança. Ao mesmo tempo, colocou o ser humano na defensiva diante do “desconhecido”, do aparentemente inexplicável, dos chamados “mistérios da vida”. O avanço tecnológico, científico e o crescimento econômico moldaram um tipo de consciência em que se espera soluções e respostas prontas para tudo.
O covid-19 fez ruir esse castelo de areia. A capacidade de previsibilidade mostrou-se inútil diante da crise atual. A visão do futuro está embaçada. Só nos resta viver o presente, o aqui e agora. É a única realidade possível.
Em meio a essas reflexões fiz uma pausa para um cafezinho, que ninguém é de ferro. O cachorro entrou no recinto pedindo um afago. Queria que lhe acariciasse o focinho. Aproveitei para exercer um pouco da minha humanidade.
Voltei, então, a pensar sobre as incertezas. Lembrei-me do livro “A Sabedoria da Insegurança”, de Alan Watts. Procurei a obra e encontrei-a numa gaveta próxima. Abri-lhe uma página, aleatoriamente. E, podem acreditar, diante de meus olhos lá estava: “Há, assim, o sentimento de que vivemos em uma época de insegurança inusitada. Nos últimos cem anos, muitas tradições, de há muito consagradas, foram destruídas – tradições de família, de vida social, de governo, de ordem econômica e de crença religiosa. À medida que os anos passam, tem-se a impressão de que há, cada vez menos, rochas em que se possa agarrar, menos coisas que se possam considerar absolutamente certas, verdadeiras e definitivas.” O espantoso é que essas palavras foram escritas por Watts em 1951.
Seria a crise atual apenas parte de um processo acelerado de transformações radicais em nível mundial? Uma “oportunidade” de reinvenção do ser humano? Dizem os economistas e também alguns filósofos que toda crise traz em si ameaças e oportunidades.
Parei por ali com minhas elucubrações. Lá fora brilhava um sol glorioso.

Por Gilberto Silos

Sobre Gilberto Silos 224 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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